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Estímulo fora de hora

A liberação de compulsório pelo Banco Central é mais um estímulo ao endividamento das famílias. Acontece em um contexto de crescimento praticamente zero do PIB e de inflação no teto da meta, corroendo os salários. Um dos objetivos da medida é impulsionar o financiamento de veículos, mas tomar crédito agora é pagar mais juros, depois do forte aumento da taxa Selic.
O BC atua, assim, como um mau conselheiro para os consumidores. Num primeiro momento, elevou a taxa básica de juros de 7,25%, em abril do ano passado, para 11%, este ano, numa sucessão de nove elevações consecutivas. Depois, fez duas rodadas de diminuição de compulsório — dinheiro que os bancos são obrigados a deixar parado no BC — para estimular a liberação de empréstimos pelo setor financeiro. Ou seja, primeiro, encareceu o custo do dinheiro para os tomadores, depois, estimulou as dívidas.
Para entender melhor o encarecimento das linhas, é bom olhar para a Nota de Política Monetária. Os juros médios pagos para o financiamento de veículos subiram de 19,7% ao ano, em março de 2013, para 23% agora. Na aquisição de outros bens, saltaram de 68% para 77%. Quem já está enrolado com as dívidas, e precisa tomar crédito pessoal, também já está sentindo o gosto mais amargo dos juros. O consignado teve aumento médio de 24,6% para 25,6%, enquanto a taxa para quem está com a corda no pescoço disparou: o cheque especial saltou de 137% para 171% ao ano.
A medida é contraditória no combate à inflação, que permanece no teto da meta, em 6,5%, pelo último dado do IPCA, de julho. Também dificulta a formação de poupança bruta da economia, que caiu para o nível mais baixo dos últimos 15 anos, para apenas 12,7% do PIB no primeiro trimestre. Sem poupança, não há como financiar investimentos.
MP 579 desorganizou setor
O desarranjo do setor elétrico está exposto na safra de balanços do segundo trimestre. A dívida bruta das companhias subiu 19% desde março de 2013, primeiro resultado após a MP 579 entrar em vigor. O montante devido pelas 38 empresas listadas em bolsa saltou R$ 23 bilhões no período e atingiu R$ 150,7 bi em junho, segundo a Economatica. Para diminuir o valor da energia, o governo pressionou as geradoras a anteciparem a renovação de suas concessões. Algumas recusaram, continuaram a cobrar o preço antigo, e conseguiram diminuir o endividamento. É o caso da Cesp, que cortou em 31,2% suas dívidas.
Eletrobrás é quem mais sofre
 Controlada pelo governo, a Eletrobrás aceitou os novos termos da MP e viu sua dívida saltar 23,6%, ou R$ 6,7 bilhões, no maior aumento nominal entre as companhias de energia. “O setor está desarrumado e não é só pela falta de chuvas”, disse Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.
 NÚMEROS EM BAIXA. A Fiesp reduziu de 1,4% para 0,7% a projeção para o PIB do 2014. Já a Go Associados baixou a estimativa para o varejo de 3,2% para 2,8%.
 Por Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro

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