Eleitorado baiano lidera média de abstenções nas urnas
A média das abstenções do eleitorado baiano nas cinco últimas eleições gerais – de 1994 a 2010 – é de 25,21%, o que significa 6,87 pontos percentuais acima da registrada no Brasil, no mesmo período. Quarto maior colégio eleitoral do país, a Bahia tem ainda média superior à dos três maiores colégios eleitorais: São Paulo (15,09%), Minas Gerais (17,92%) e Rio de Janeiro (16,49%).
E a ausência às urnas tende a crescer este ano no estado, segundo estudiosos. Os altos índices de abstenção também causam prejuízos ao erário. Somente em 2010, na Bahia, as abstenções no primeiro turno causaram um prejuízo de cerca de R$ 7,5 milhões.
No país, a perda foi de R$ 195,2 milhões nos dois turnos, ao se levar em conta o custo médio naquele ano de cada eleitor de R$ 3,63, calculado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É que, ao preparar as eleições, o investimento é feito pelo TSE para montar estrutura que atenda ao total de eleitores aptos a votar.
Para este ano, 10.185.417 eleitores estão aptos a comparecerem às urnas em outubro no Estado. O número é 6,72% maior que o quantitativo de 2010 (9.544.368). No entanto, especialistas frisam que abstenções tendem a aumentar porque os eleitores têm se afastado do processo eleitoral.
Para o cientista político Gilberto Wildberger, o número de ausências na Bahia deve aumentar por conta de três aspectos principais: ausência de carisma dos candidatos ao governo do estado, apatia de parte do eleitorado e baixa consciência democrática.
“Na de 2014, há um certo desinteresse. Uma sensação de deja vu. A volta dos que já foram. Paulo Souto não anima ninguém. Rui Costa muito menos. Lídice não é conhecida no interior e, como senadora, não tem muito destaque. Não há candidato com carisma. São três picolés de chuchu”, afirma.
O coordenador de eleições do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), Maurício Amaral, ressalta que a intenção é atrair eleitores. “É realmente algo que preocupa. A gente quer justamente o movimento inverso de trazer o eleitor para a urna”, diz.
Imediatismo
Na avaliação geral, a porcentagem de abstenções no estado cresceu de 1994 a 1998. Na eleição geral seguinte, em 2002, reduz-se de 31,84% para 25,31%. Em 2006, o número apresentou uma nova diminuição, com 20,68%. No entanto, em 2010, a ausência às urnas voltou a crescer, com 21,55% (ver gráfico ao lado). Em todos os anos, a população apta a votar apresentou crescimento.
Na Bahia, o ápice, no período avaliado, ocorreu em 1998, no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com 31,84%. Em 2006, quando o também ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva se reelegeu, registrou-se a menor porcentagem: 20,68%.
Amaral acha interessante o contraste na comparação das eleições gerais com as de prefeito. Ao analisar as eleições de 2012, 2010, 2008 e 2 006, com os números da Bahia, ele verificou que o número de ausência nas eleições gerais têm sido 4% maior que nas municipais. “Nosso eleitorado é de 10,2 milhões. 4% representa cerca de 400 mil eleitores. É um número maior que o eleitorado de Feira de Santana (387.768 pessoas)”.
Para ele, há uma identificação maior com o âmbito municipal. “O eleitor se distancia mais da eleição para presidente. As duas são extremamente importantes, mas a de presidente é, sob certos aspectos, até mais importante”, diz.
Como uma das causas do fenômeno, Amaral aponta a proximidade e imediatismo de eleitores. “O interesse maior é em relação às necessidades imediatas. É aquilo (na municipal) que é mais próximo do cotidiano dele”.
Reflexos
As manifestações ocorridas em 2013, durante a Copa das Confederações, quando milhares de pessoas foram às ruas protestar em várias capitais do país, inclusive Salvador, não podem ser desconsideradas e devem ter impacto nas abstenções.
“É arriscado afirmar, mas a manifestação é o cidadão pedindo mais participação. O cenário coerente para isto seria a redução no número de abstenções. Essa é a hora da manifestação legítima com o voto do eleitor. Se elas tiverem de fato reflexo, a gente espera que ocorra nas abstenções”, ressalta o coordenador de eleições do TRE-BA .
Wildberger acredita que não haverá redução das abstenções por conta dos protestos. “As manifestações tiveram fim com a Copa do Mundo, que foi muito boa. O desastre anunciado não aconteceu. Só no campo. Isso vai alimentar desilusão e apatia. As pessoas estão meio frustradas”, opina.