Desolação industrial
Consumo fraco, estoques elevados, forte desconfiança em relação ao futuro, por uma série de incertezas sobre os preços de energia e combustíveis. A indústria tem razões de sobra para pisar no freio da produção. Até o real mais fraco, que ajudaria nas exportações e conteria as importações, parou de cair porque o governo teme os seus efeitos sobre a inflação elevada.
A desolação do setor industrial ficou mais evidente com a queda de 0,3% em abril, que vem depois de uma retração de 0,5% em março. Em fevereiro, foi uma alta pequena, de 0,2%. O único mês bom do ano foi janeiro. Pela queda das vendas de veículos em maio, anunciada pela Fenabrave esta semana, de 5,74%, já há quem aposte em nova retração industrial no mês, que seria a terceira consecutiva.
“Para maio, a redução acentuada da confiança do empresário industrial e os altos estoques apontam para nova queda (da indústria)”, escreveu o analista Rodrigo Miyamoto, do Itaú Unibanco.
Os números industriais estão conseguindo o que parecia difícil: piorar. Não apenas pela queda de 0,3%, mas porque o detalhamento do que foi divulgado pelo IBGE mostra outros pontos mais preocupantes. A produção, em abril, foi 2,8% menor do que a de setembro de 2008, mês da quebra do Lehman Brothers. Seis anos depois do início da crise internacional, a política industrial não conseguiu sequer recuperar o que foi perdido, apesar dos bilhões gastos para incentivá-la.
No acumulado do ano, a indústria encolheu 1,2%. Os bens de capital colheram os piores números. Caíram 4,8%, puxados pela redução da produção de caminhões. Os dados confirmam a análise de que a alta das estatísticas de investimento do início do ano passado foi um caso isolado e provocado pela produção de caminhões. Com a mudança da tecnologia de motores para usar o diesel mais limpo, as vendas de caminhões pararam por um tempo e foram retomadas fortemente no começo do ano passado. Como esse item está em investimento, a taxa deu um salto. O governo comemorou falando em retomada do crescimento, mas vários analistas alertaram que era pontual e restrito a esse produto. Se houve alta de 7,3% na produção de equipamento para transporte de janeiro a abril de 2013, agora, há queda de 10,3%, segundo os dados do IBGE.
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco chamou atenção para o resultado negativo dos insumos da construção civil. Esse fato e a queda dos bens de capital podem levar a novo encolhimento dos investimentos no PIB do segundo trimestre, entre 1% e 2%. Se isso acontecer, será a quarta queda seguida.
Enquanto isso, o Ministério da Fazenda continua andando em círculos. Depois de elevar o IOF em captações externas, para conter a entrada de dólares no país, e defender a desvalorização do real como salvação da indústria, o ministro Guido Mantega, ontem, suspendeu a medida. Agora só haverá imposto nas captações de curto prazo. É uma forma de atrair mais capital estrangeiro, mesmo numa época em que o real está caindo. O empresário exportador que investiu pensando no ganho cambial está sendo pego no contrapé.
Sobre o aumento do IPI, também há sinais de reviravolta. O imposto que tinha alíquota de 7% para a venda de veículos caiu para 3% e seria integralmente reposto a partir de julho. Com a fraqueza das vendas, Mantega fala “avaliar a situação” para definir o aumento.
O governo continua improvisando na política industrial e usando os mesmos remédios: incentivos localizados e redução temporária de impostos para alguns produtos. Até agora não deu certo, como mostraram os números que o IBGE divulgou ontem. A indústria continua desanimada.
Por Míriam Leitão e Alvaro Gribel