Entenda tudo sobre anestesia
Ninguém gosta de sentir dor. E considerando a origem grega da palavra anestesia, cujo significado é insensibilidade, é fácil entender por que ela é sempre desejável. Por meio dela, suspende-se de forma geral ou parcial o sofrimento físico. E essa é uma garantia alentadora no momento de enfrentar uma cirurgia. Por outro lado, a possibilidade de reações adversas provoca medo. Os riscos existem, mas segundo os especialistas, as chances de complicações são mínimas. Para controlar a ansiedade antes de uma cirurgia, o segredo é a perfeita interação entre médico e paciente. Quanto maior a disponibilidade em conhecer o histórico do doente e esclarecer suas dúvidas, maiores serão as chances de sucesso. O uso da anestesia é relativamente novo, pois ela conta 160 anos aproximadamente. No passado, os recursos dos cirurgiões eram as intervenções com dor, pancadas na cabeça ou a compressão da carótida. Na Idade Média, um pequeno avanço levou ao uso de poções feitas à base de álcool e extrato de plantas. Anos depois, a China popularizou o ópio, sobrevindo as injeções intravenosas com anestésicos em 1600. Hipnose, água gelada e neve foram outras opções disponíveis. Mas a partir dos séculos XVII e XVIII, o conhecimento sobre o funcionamento de órgãos vitais, das propriedades de gases como o dióxido de carbono e o nitróxido evoluíram e, em 1842, a anestesia geral foi utilizada pela primeira vez nos EUA. Hoje, garantir ao paciente a ausência de sensibilidade a estímulos dolorosos é função de médicos especializados em anestesiologia. Esses profissionais são treinados não só para prover anestésicos para as operações, mas também atuam em procedimentos diagnósticos (endoscopias, colonoscopias, cateterismos cardíacos, etc.) e odontológicos, bem como no controle de dores crônicas ou agudas, além de assistirem
Os anestesiologistas
Diferentemente de seus antecessores, esses especialistas dispõem de alternativas menos cruéis e, dependendo dos procedimentos, utilizam tipos diferentes de anestesias. Elas podem ser geral, regional ou local. “A primeira geralmente é administrada nos centros cirúrgicos dos hospitais, pois se destina à execução de cirurgias de maior complexidade. A local pode ser feita fora desses locais e resulta da aplicação de anestésicos na região do corpo onde o médico deseja intervir”, explica Valberto de Oliveira Cavalcante, médico especialista em anestesiologia e chefe do Serviço de Anestesia do Hospital 9 de Julho.
As anestesias geral e regional devem ser sempre administradas por um anestesiologista, cuja atividade inicial é avaliar as condições pré-operatórias do paciente. “Sem essa verificação, a pessoa não pode ser anestesiada”, esclarece Aurélio Yamada, coordenador do departamento de anestesia do Centro Especializado em Cirurgias Minimamente Invasivas (CECMI). “A prática visa a identificar a existência de doenças preexistentes; medicamentos em uso; exames físicos, além de verificar testes laboratoriais; jejum pré-operatório; alergias e histórico médico”, diz Yamada. É importante saber que o campo de atuação desses profissionais é muito mais do que um simples “fazer dormir”. “Anestesiologistas garantem que o organismo esteja funcionando o mais próximo possível das condições normais durante um procedimento. E isso só é possível por meio da monitoração constante empreendida pelo especialista”.
Ação no corpo
Os medicamentos utilizados na anestesia agirão de formas diferentes, dependendo da cirurgia a ser realizada. Elas podem atuar na transmissão de impulsos dolorosos ou nos nervos. Outros remédios terão efeito diretamente no cérebro, mantendo o paciente adormecido para impedir que ele tenha consciência da dor. Há ainda os anestésicos que agem nos diversos sistemas do organismo: cardiovascular, respiratório, muscular, etc. Na anestesia geral são usados vários tipos de medicações que, juntos, promovem a supressão da dor. Anestésicos venosos (administrados na veia) são associados a anestésicos inalatórios (com o oxigênio através do pulmão). A meta é manter o paciente anestesiado durante o tempo de duração da cirurgia. Para facilitar o trabalho do cirurgião, relaxantes musculares potentes são utilizados. Já a anestesia regional é feita por meio da injeção de anestésicos locais na proximidade dos grandes nervos. Isso explica por que um braço ou apenas uma parte dele pode ser totalmente anestesiado. Na anestesia raquidiana ou peridural, o anestésico é inserido na coluna. O resultado é a falta de sensibilidade em toda a parte inferior ao umbigo.
Reações possíveis
Os especialistas esclarecem que os efeitos colaterais podem se manifestar, porém a tendência é que eles dependem de dois fatores: a quantidade de anestesia e a sensibilidade individual do paciente. Amnésia; sonolência; náuseas; vômitos; sensação de ressaca; coceira; desinibição e sensação de embriaguez são algumas das reações possíveis. Nos casos mais graves, há inibição da respiração, diminuição acentuada da pressão arterial e fraqueza muscular. “É por isso que se restringe o uso desses anestésicos aos ambientes hospitalares, que contam com médicos treinados”, comenta Yamada.
Alergia ao medicamento
Existe ainda outro tipo de reação anormal e mais grave, denominada reação idiossincrática, definida como uma ação reflexa a agentes químicos determinada geneticamente. “Esse fenômeno depende da interação do medicamento com cada organismo. E não significa, em absoluto, que o paciente é alérgico a tal medicação. A reação alérgica pode ser idiossincrásica, mas nem toda reação idiossincrásica é de natureza alérgica”, afirma Alexandre Slullitel, diretor científico da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (Saesp). “Os riscos existem, mas na maioria das vezes eles se traduzem em reações de pequena gravidade, como náuseas e sensação de frio. Complicações mais graves, como choques anafiláticos, parada cardíaca e óbito, felizmente, são raras de acontecer”, conclui o anestesiologista Aurélio Yamada.
(Viva Saúde)