Por trás de uma cadeira
A publicação, esta semana, da primeira foto da atleta Laís Souza após o acidente de esqui sofrido em janeiro durante a fase de treinamento para os Jogos Olímpicos de Sochi foi preparada com esmero. Nada estava fora do lugar.
A jovem mostrava o semblante cativante e sereno de sempre. Estava acomodada numa cadeira de rodas elétrica com a aisance de quem está instalada numa espreguiçadeira. Os sete membros da equipe que monitoram sua reabilitação no hospital da Universidade de Miami ostentam um sorriso uniforme.
A ideia, imagina-se, era transmitir uma mensagem positiva, de superação da querida ex-ginasta rumo à normalidade. Acabou causando efeito estranho, quase contrário ao desejado.
Para muitos com idade para relembrar a falseada imagem de Tancredo Neves ladeado por sua equipe médica em 1985, e que sugeria uma recuperação inexistente do presidente às vésperas da posse, essa primeira foto de Laís pareceu destinada a maquilar o mais trágico.
Sabe-se agora que a foto acabou sendo veiculada fora de seu contexto original — ela foi gerada para a entrevista exclusiva de Laís ao programa “Fantástico”, com foco exclusivo nas várias etapas, tanto as miúdas como as colossais, do progresso clínico da atleta.
Para tanto, a chamada publicitária do programa (“…o acidente que reduziu a sua capacidade de competir…”) atenuou ainda mais a linha adotada pelos médicos e seguida pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pela Confederação Brasileira de Desportos de Neve, de não definir por enquanto o quadro de comprometimento permanente de Laís.
Dorrit Harazim
Blog do Noblat