Dilma tenta aproximação maior com empresários

Uma fonte da área econômica comentou que Dilma costuma receber empresários de setores específicos, mas não tem reunido fóruns de debates que representam a classe empresarial, como o Conselhão e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). A última vez em que houve reunião do Conselhão foi em julho e ela não participou.
— O empresariado está um pouco assustado com os rumos da economia e precisa falar e ouvir do governo o que está acontecendo — disse a fonte.
Ministros mais atuantes
Segundo o senador Armando Monteiro (PTB-PE), conselheiro da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Dilma mantém canal de diálogo com a entidade. Mas o tratamento é diferente da relação com o ex-presidente Lula quando este estava no cargo.
— Lula surpreendia e costumava aparecer nas reuniões do CNDI — comentou Monteiro.
A seu ver, o empresariado está retraído, não só por causa do “estilo do governante”, mas principalmente pelo quadro econômico, pela nítida piora nas contas públicas e a “contabilidade criativa” do governo.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), Paulo Safady, foi enfático:
— O estilo da presidente é esse. Ela não recebe, não gosta e tem uma agenda muito restrita.
Mas Safady destacou que o setor tem conseguido manter uma interlocução com os ministros de Dilma, como Gleisi Hoffmann (Casa Civil ) e Guido Mantega (Fazenda).
Segundo ele, o comportamento dos empresários é também consequência das dificuldades do setor público em realizar investimentos, principalmente em infraestrutura, com entraves de toda natureza, desde marco regulatório a problemas ambientais, burocracia e custos.
— O ambiente de negócios é um desastre — reforçou Safady.
Uma fonte próxima à presidente reconhece que a forma pela qual foi conduzido o processo de renovação das concessões do setor elétrico, com objetivo de reduzir a contas de luz, estressou a relação com o setor produtivo, que entendeu como intervencionismo e quebra de contrato. A determinação do governo de “tabelar o lucro” nas concessões, calibrando a taxa de retorno para evitar mais custo para os usuários, foi outro fator de tensão, disse o interlocutor.
Essa fonte lembrou a determinação de Dilma de reduzir os juros para os consumidores, que gerou um embate com o setor financeiro. Soma-se a isso o estilo “duro” da presidente, afirmam interlocutores próximos, que apontam, ainda, o fato de a presidente ser a primeira mulher a governar o país.
— O mundo executivo é ainda dominado por homens. Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, adora Dilma — disse a fonte.
Diante deste quadro, Lula intensificou ainda mais sua relação com os empresários. Em São Paulo, costuma falar com representantes do setor financeiro e, nesta semana, vai ser reunir com executivos do agronegócio, etanol, celulose e turismo, em Mato Grosso do Sul (MS).
Além de Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tornou mais frequentes seus despachos em São Paulo, onde recebe empresários. O vice-presidente Michel Temer também tem ocupado parte desse espaço com viagens de negócios e encontros empresariais. Semana passada, Temer estava China.
Levantamento feito pelo GLOBO na agenda da presidente mostra que, no segundo semestre, somente a partir de setembro Dilma abriu espaço para empresários. De forma geral, a presidente se dedicou a uma agenda que inclui inaugurações de obras e eventos nas áreas de educação e habitação. Em julho, por exemplo, recebeu em seu gabinete apenas dois empresários, Murilo Ferreira, diretor-presidente da Vale, e Luiz Carlos Trabuco, diretor-presidente do Bradesco. Também reservou um espaço para Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Produtividade.
Em setembro, recebeu mais uma vez Murilo Ferreira, da Vale. No mesmo mês, manteve audiências com Rupert Stadler, presidente mundial da Audi AG, que formalizou investimento de R$ 504 milhões no país; Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI); e Emilio Botin, presidente Mundial do Grupo Santander. Em outubro, recebeu Mauricio Stolle Bähr, presidente da GDF Suez Brasil; Marcelo Odebrecht, diretor-presidente da Organização Odebrecht; Fadi Chehadé, da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers; além de um grupo de empresárias.
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