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Colesterol: mudou tudo

Caíram. Caíram não: despencaram. A queda vertiginosa em questão se refere às novas metas do colesterol, mais especificamente sua porção considerada nociva para as artérias, o LDL. De 100 miligramas por decilitro no sangue, que até então era o limite saudável, seus níveis agora devem ser inferiores a 70. Esse objetivo precisa ser almejado principalmente por quem já foi diagnosticado, por exemplo, com as placas de gordura, as responsáveis por interromper o fluxo sangüíneo nos vasos um ataque cardíaco geralmente é a conseqüência desse engarrafamento nas grandes vias que abastecem o coração.

A norma foi recentemente baixada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Essa mudança se baseia em estudos com indivíduos que, acompanhados por um determinado período, conseguiram reduzir as taxas de LDL, diz o clínico José Ernesto dos Santos, daUniversidade de São Paulo em Ribeirão Preto, no interior paulista. Ou seja, são números factíveis. E, no final das contas, essas pessoas tiveram menor prevalência de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame.

Numa das várias pesquisas em que se apoiaram os especialistas da SBC para estabelecer o novíssimo limite, os voluntários se valeram da última geração de estatinas, o medicamento que nocauteia o LDL. No início da investigação eles também se submeteram a um ultra-som intravascular. Esse método permite visualizar a presença e o volume dos ateromas,- o outro nome das placas, nas artérias coronárias. “Elas regrediram ao longo de um ano”, conta Santos, que participou do comitê envolvido na elaboração do documento da SBC. “Depois de 18 meses constatou-se uma diminuição de espessura e da área ocupada pelas lesões nos vasos”, conclui. Essa espécie de retração foi verificada nos participantes que alcançaram taxas de LDL entre 65 e 70. Taxas bem baixas.

Apesar de oficialmente os níveis ideais de LDL não terem mudado para grande parte da população, permanecendo por volta de 130 miligramas por decilitro de sangue para quem nunca teve maiores problemas, no fundo o conselho para todos é vigilância absoluta. Isso porque 40% dos brasileiros se encontram no chamado grupo de risco mediano. É aquele pessoal que está com vários quilos a mais, fuma e tem a pressão um tanto elevada.

Os cardiologistas chegam a esses 40% por meio do escore de Framingham, um tipo de categorização que estabelece notas para fatores como sexo, idade, colesterol total, HDL (a versão boa da gordura) e tabagismo. À primeira vista, situar-se no grupo intermediário parece sinalizar menos turbulências à vista. Mas não é bem assim.

Quem está no grupo de risco mediano tem de 10% a 20% de probabilidade de se tornar refém de males cardiovasculares no intervalo de uma década. O fato é que, além daqueles fatores listados pelo escore de Framingham, algo camuflado ou que passa despercebido pelo especialista pode deflagrar uma baita crise. O paciente considerado de risco intermediário muitas vezes é negligenciado e… infarta, lamenta a cardiologista Ana Paula Marte, do Instituto do Coração de São Paulo, o Incor.

Para afastar essa surpresa nada agradável os médicos valorizam cada vez mais o histórico familiar de cada um o sinal fica amarelo quando há casos de pai ou mãe vítimas de um ataque cardíaco. A presença de síndrome metabólica, a conjunção de obesidade abdominal, LDL alto, pressão alta e resistência à insulina, é outro ponto que merece atenção. Aí, não há escapatória: a pessoa sobe uma posição no ranking do risco e terá mesmo de derrubar as taxas do colesterol ruim. O LDL, então, deve ser menor do que 100, afirma Ana Paula.

A batalha contra os altos índices da gordura é sem dúvida árdua, mas não é missão impossível. Além do uso de estatinas em alguns casos, ela inclui estratégias como modificar a alimentação, praticar uma atividade física e tentar elevar o HDL, aquele conhecido como o bom colesterol não é para menos, já que ele é o encarregado de limpar a sujeira despejada pelo LDL nos vasos, garantindo uma livre circulação do sangue.
Pesquisas recentes, no entanto, expõem um lado menos nobre da lipoproteína de alta densidade, o nome científico da molécula que, parece, nem sempre é tão boazinha assim. O HDL é muito complexo. “Há pelo menos 12 subtipos descritos”, diz Ana Paula, sem se surpreender exatamente com a possibilidade de uma nova faceta. Seu colega Jairo Borges, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo, esclarece ainda mais: “algumas dessas partículas seriam inflamatórias. Em outras palavras, contribui para o processo que culmina na aterosclerose, a formação de placas de gordura nas artérias”, em vez de combatê-lo.

“Tem gente com HDL alto, mas com aterosclerose precoce. Por outro lado, há indivíduos com níveis baixos e que vivem muito bem”, diz o cardiologista Marcelo Bertolami, também do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Ou seja, nesse mundo das taxas de colesterol nada é mais tão simples ou melhor, tão simplista. Mas, por enquanto, até que tudo ganhe mais evidências científicas, a ordem do dia continua sendo manter o HDL nas alturas.
Catapultar os níveis de HDL, até que se prove o contrário, é fundamental para o peito bater forte por muito tempo. Publicada em setembro no periódico científico americano New England Journal of Medicine, a análise de um estudo com cerca de 10 mil pessoas concluiu que alcançar valores de HDL acima de 55 miligramas por decilitro de sangue diminui em 25% o risco de morte devido a problemas cardíacos em comparação com pessoas com níveis em torno de 38.

Quando se aumenta o HDL em cerca de 1%, reduz-se a probabilidade de complicações coronarianas entre 2% e 3%, diz Jairo Borges. Essa tarefa, no entanto, requer força de vontade. Parar de fumar e emagrecer são algumas das recomendações para alcançar esse objetivo, afirma Marcelo Bertolami. A também cardiologista Ana Paula Marte acrescenta: O exercício físico, por exemplo, torna o HDL mais eficiente na remoção do LDL e dos triglicérides, outro tipo de gordura danoso. Quando as mudanças de hábitos não surtem o efeito desejável, os médicos podem lançar mão de suplementos, como os de niacina ou de fibratos.

A ótima novidade, contudo, é a seguinte descoberta: esfriar a cabeça é tática eficiente para alavancar a subida do HDL. Quem assina embaixo são pesquisadores da Universidade do Estado de Oregon, nos Estados Unidos. Descobrimos que lidar de forma positiva com as situações estressantes está associado com níveis elevados do bom colesterol, disse à SAÚDE! Carolyn M. Aldwin, a líder do estudo que analisou 716 homens com média de idade de 65 anos. Em geral o estresse provoca o aumento dos triglicérides e a diminuição do HDL porque os pacientes tensos tendem a comer mais e ingerem comidas de pior qualidade, observa Bertolami.

Mas, de acordo com a psicóloga americana, picos de cortisol, o hormônio das turbulências emocionais, por si sós elevam tanto os triglicérides quanto o LDL. Para manter essas substâncias sob controle, Carolyn recomenda avaliar as questões do dia-a-dia com uma pergunta em mente: o quão estressante é esse momento? Procure dar uma nota de 1 a 10, sendo 1 algo que não estressa nem um pouco e 10 algo equivalente à imagem de sua famíla em um acidente de carro, exemplifica. Se a nota atribuída a determinado problema for alta, então reflita se vale a pena esquentar a cabeça com ele ou pelo menos com essa intensidade.

Outro recurso é o que Carolyn apelida de estratégias antecipatórias, algo prosaico como encher o tanque de gasolina antes de sair com o carro à noite. Ou seja, se já sabe que algo vai aborrecê-lo, prepare-se para enfrentar o momento com relativa calma e desenvoltura. Isso, acredite, também pode se refletir no seu colesterol.
(Saúde)

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