IPCC eleva certeza de que homem provocou aquecimento global

O mundo está esquentando e os cientistas têm quase certeza de que isso é culpa do homem. Segundo o novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática, ligado à ONU), divulgado nesta sexta-feira, as pesquisas mais recentes apontam que existe 95% de certeza do envolvimento humano no aquecimento global. Há seis anos, quando o relatório anterior foi divulgado, a certeza era de 90%. A diferença parece pouca, mas é significativa em termos científicos e sugere que aumentou a precisão dos modelos climáticos usado pelo IPCC, que se esforça em recuperar a credibilidade abalada nos últimos anos.
Depois de lançar seu último relatório, em 2007, o IPCC foi alvo de críticas por ter politizado a questão climática a ponto de flertar com a manipulação de dados de pesquisas científicas. Num esforço para responder aos críticos, o novo relatório é fruto de uma depuração dos trabalhos anteriores — com informações mais precisas, abrangentes e recentes — e se mostra mais cauteloso em apontar certezas. Por isso mesmo, suas previsões são inquietantes.
Os novos modelos climáticos permitiram aos cientistas afinarem as previsões anteriores sobre o quanto a atmosfera terrestre seria sensível ao aumento de dióxido de carbono emitido pelos seres humanos. Como resultado, o IPCC baixou — um pouco — sua previsão de aquecimento global para este século. Enquanto o relatório de 2007 previa que esse aumento na temperatura iria ficar entre 1,1 e 6,4 graus Celsius, o novo relatório afirma que a temperatura deve subir entre 0,3 e 4,8 graus Celsius — o que está longe de ser tranquilizador. Os cientistas do IPCC também reconhecem que o aquecimento global sofreu uma pausa na última década, mas alertam que o efeito é apenas passageiro, e o mundo deve voltar a esquentar nos próximos anos.
O relatório de trinta páginas divulgado nesta sexta-feira é o produto de um encontro de cientistas e representantes governamentais reunidos em Estocolmo, na Suécia, desde segunda-feira. O texto, que é chamado deSumário para Formuladores de Políticas, é o resumo de um relatório técnico de mais de 2.000 páginas escrito por 900 cientistas reunidos pelo IPCC e deve servir para guiar as políticas públicas dos países signatários. O texto divulgado nesta sexta-feira é apenas a primeira das quatro partes que compõem o relatório completo do IPCC.A revisão do modelo não elimina os riscos do aquecimento global. Está mantida a previsão de uma maior quantidade de eventos extremos, como tempestades, furacões e secas. E os cenários para as cidades litorâneas são ainda piores. O relatório de 2007 não levava em conta o derretimento de geleiras na Groenlândia e na Antártica para calcular o aumento no nível do mar, previsto entre 18 e 59 centímetros. Agora, com os modelos mais completos, o IPCC prevê que o nível dos mares vai aumentar entre 26 e 82 centímetros, o que ameaçaria inúmeras cidades costeiras.
Esse é o quinto relatório lançado pelo IPCC desde 1988. “A ciência do clima é muito dinâmica. No decorrer dos anos muitos dados novos são publicados e os modelos climáticos se refinam. Por isso, até o momento, os relatórios tiveram uma periodicidade de cerca de 5 ou 6 anos”, afirma o físico Paulo Artaxo, pesquisador da USP e membro do IPCC, que participou da realização do relatório atual e do anterior. A periodicidade permite que os resultados sejam cada vez mais confiáveis e precisos.
(Veja)