Os sucos que anulam o efeito dos remédios
A centenas de bons motivos para você incluir sucos naturais, lotados de vitaminas e sais minerais, no dia-a-dia. A recomendação, claro, continua valendo, mas convém prestar atenção na ressalva feita por cientistas canadenses: na hora de tomar remédios, evite dar um empurrãozinho com goles de suco de laranja, de maçã ou de grapefruit — essa última, popularíssima na América do Norte, é conhecida por aqui como toranja.
Essas frutas, segundo um estudo da Universidade de Western Ontario, estão cheias de substâncias capazes de afetar a ação de anti-histamínicos, os remédios contra alergias. Também atrapalham o efeito dos betabloqueadores, usados no controle de doenças cardiovasculares. E, para completar, alteram o funcionamento dos quimioterápicos, drogas empregadas para destruir um câncer.
Foi a grapefruit que puxou o fio dessa meada. Há cerca de duas décadas, sua interação com medicamentos vem sendo estudada pelo cientista David Bailey. Primeiro, ele notou que seu suco potencializava perigosamente a ação de cerca de 50 remédios, que, então, surtiam mais efeito do que o esperado — o que nem sempre é bom. Depois, notou uma interação no sentido inverso: a fruta fazia com que outras drogas tivessem efeito reduzido — no caso, a maioria delas acabou com uma ação 30% menor. Recentemente, pode-se dizer que Bailey trocou o sabor de sua pesquisa, porque passou a observar também os efeitos dos sucos de laranja e de maçã, os mais populares em seu país. E o impacto nos remédios se manteve.
Por que isso acontece? O cientista canadense não tem a resposta. “É possível que certos flavonóides, como a naringina da grapefruit e a hesperidina da laranja, interfiram, pelo menos parcialmente, no princípio ativo desses medicamentos”, arrisca. “No intestino, eles inibiriam uma proteína presente em suas paredes que seria fundamental para receber a droga e transportá-la para a corrente sangüínea.” Ou seja, sem a carona, a dose do remédio não cai completamente na circulação — parte é eliminada. Em alguns casos, só metade vai parar nos vasos, o que é insuficiente para obter o efeito desejado.
Isso foi observado em 15 voluntários saudáveis, por exemplo, que consumiram um antialérgico com 300 ml de suco de grapefruit — o equivalente a um copo e meio. A queda no resultado do remédio foi averiguada, mais tarde, por meio de testes sangüíneos. E ela também aconteceu quando, em vez de tomar o suco junto com o medicamento, a bebida foi ingerida até duas horas antes do comprimido.
(Saúde)