Justiça determina centro médico para cidade contaminada por chumbo
Eles foram os últimos operários da fábrica e, há 20 anos, vivem se queixando: contraíram doenças provocadas pelo contato com o chumbo. “Problema de pressão arterial, meus ossos doem e eu não posso caminhar, não tenho força mais para nada”, afirma o ex-operário Rubem Antônio. A fábrica operou durante 33 anos. Foi fechada em 1993. Produziu cerca de 900 mil toneladas de barras de chumbo e espalhou contaminação pela cidade de Santo Amaro, no recôncavo baiano. Quando funcionava, a fábrica doava para quem quisesse o lixo da produção, a escória do chumbo.
E foi com esse material venenoso que a Prefeitura de Santo Amaro pavimentou boa parte da cidade. Hoje, as ruas já estão calçadas, asfaltadas, mas, em qualquer área pavimentada, dá para ver os resíduos do chumbo. Segundo a Universidade Federal da Bahia, isso contribuiu muito para a contaminação de 18 mil pessoas.
A contaminação por chumbo altera o sistema nervoso, o funcionamento dos rins, provoca anemia, impotência e até perda de memória. O médico Fernando Carvalho examinou os ex-empregados em estágios avançados de contaminação. “Eles têm uma qualidade de vida inferior, por exemplo, a de idosos que sofreram fratura de fêmur e estão acamados. Ou de pessoas que têm insuficiência renal crônica”, explica. Das 3.500 pessoas que trabalham na fábrica, 948 já morreram.
E foi para atender as vítimas espalhadas pela região que a Justiça Federal na Bahia decidiu acolher o pedido do Ministério Público que obriga o governo a construir em Santo Amaro um centro especializado de tratamento. A Fundação Nacional de Saúde tem um prazo de seis meses para cumprir a ordem judicial. “Para os que já se foram, não tem jeito, mas, para nós, que estamos vivos, essa decisão da Justiça é muito importante, porque pode prolongar as nossas vidas”, diz Adaílson Pereira, presidente da Associação Das Vítimas de Chumbo.
(G1)