Brics em tempos de autoajuda
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que os Brics chegaram a um consenso sobre a necessidade de criar uma linha de socorro cambial, em contraponto ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na prática, porém, o chamado “Arranjo de Reservas de Contingência” não sai do papel durante o mandato da presidente Dilma Rousseff, que se encerra em dezembro de 2014, segundo fontes que participam da 5ª reunião de cúpula do grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Dilma participou ontem em Durban de reunião com o Manmohan Singh, primeiro-ministro da Índia.
O acordo foi debatido por ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais do quinteto. A ideia é criar um mecanismo de até US$ 100 bilhões, mas a proposta de tornar o instrumento operacional em 2014 foi descartada completamente na reunião. No mesmo encontro, as equipes econômicas dos Brics concluíram ser tecnicamente possível criar um banco de desenvolvimento, mas isso também ficará no papel até 2016.
Os participantes da reunião concordam: os Brics precisam de uma rede de proteção cambial para ser usada em casos de emergência. A oposição ao FMI se explica pelas condicionantes exigidas pelo fundo, geralmente reformas consideradas liberais, em troca da liberação de dinheiro. Em 1998, o Brasil recebeu US$ 41 bilhões do FMI e, em troca, teve de se comprometer com uma política fiscal austera.
“Vamos indicar aos nossos líderes que estamos em condições de levar adiante esse CRA”, afirmou Mantega, fazendo referência à sigla em inglês do arranjo. “É mais uma retaguarda financeira.”
O instrumento não seria, como muitos esperavam, uma espécie de fundo ou reserva. Será um compromisso, um tipo de empenho de cada um dos Brics de manter um certo valor disponível para o caso de necessidade, como uma crise no balanço de pagamentos. Ou seja, o dinheiro continuará nas reservas internacionais de cada país e ainda não há critérios sobre quando, como usar e os limites para os eventuais aportes. A cifra de
US$ 100 bilhões inclui maior injeção de dinheiro da China, que possui as maiores reservas cambiais do mundo, ultrapassando US$ 3 trilhões.
Banco – Fontes diplomáticas relatam, no entanto, enorme dificuldade para consensos mínimos entre os integrantes do grupo, já que as necessidades de Rússia e África do Sul, para citar um exemplo, costumam ser bem díspares. Neste ponto empacou a proposta de criação do banco de desenvolvimento do grupo.
O objetivo de criar um banco próprio de desenvolvimento é reduzir a dependência dos países de instituições financeiras ocidentais. “Há um movimento positivo, mas não há nenhuma decisão sobre a criação do banco”, disse o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, ontem em Durban.
Ele acrescentou que os ministros das Finanças vão abordar as questões novamente em abril em uma reunião do G20, grupo que reúne as principais economias do mundo.
Mantega classificou a criação do banco como uma “necessidade”. “Um consenso entre todos é que os estímulos têm de caminhar pelo lado do investimento em infraestrutura”, afirmou o ministro. “A segunda questão que resulta disso é como financiar esse aumento dos investimentos em infraestrutura, e daí uma das respostas é o nosso banco de desenvolvimento. Chegamos à conclusão de que é necessário termos um banco dos Brics, embora haja outras estruturas de financiamento”, acrescentou (A Brasil|)