Desenvolvimento na Amazônia: várias incógnitas
“Tudo que se conhece sobre a Amazônia, em relação aos ciclos econômicos, não encontra parâmetros naquilo que está sendo planejado”, diz a coordenadora executiva do Instituto Socioambiental – ISA, Adriana Ramos.
Os projetos de infraestrutura e desenvolvimento previstos para a Amazônia nos próximos anos requerem uma discussão acerca do desenvolvimento das cidades e da economia regional, pontua Adriana Ramos em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone. Segundo ela, os investimentos no setor energético e de mineração na Amazônia são preocupantes por causa do alto impacto ambiental e social, os quais não contribuem efetivamente para o desenvolvimento da região. Ao propor uma reflexão sobre o modelo desenvolvimentista em curso, ela enfatiza que o “Brasil tem um papel muito importante nesse processo, não só pelos projetos na Amazônia brasileira, mas também pelo fato de que o Brasil é o principal financiador de projetos similares em outros países da Amazônia”.
Ao comentar obras como a de Belo Monte, Adriana menciona a necessidade de discutir o “desenvolvimento das cidades na Amazônia, porque a Amazônia tem uma população majoritariamente urbana, mas essa urbanização não é similar às outras regiões do país”. Segundo ela, “há uma série de deficiências de equipamentos de infraestrutura urbana nas cidades da Amazônia e uma pressão muito grande também das atividades econômicas. Então, como assegurar que a qualidade de vida das cidades e que o modelo das cidades amazônicas estejam adequados à realidade regional?”, questiona.
Na avaliação dela, “a ausência do poder público” impede a garantia dos direitos básicos à população durante a realização dos empreendimentos. “Por isso, começam a ter os processos de compensação dessas grandes obras, investimentos na área de saneamento básico, de instalação de postos de saúde, escolas, que deveriam ser, digamos, a obrigação do poder público e que acabam sendo realizados como se fossem uma coisa trazida por um benefício dos empreendimentos”, critica.
Adriana Ramos (foto abaixo) é graduada em Comunicação Social e morou em Manaus entre 1991 e 1994. Trabalha no ISA em Brasília desde 1995 como assessora de políticas públicas. Atualmente é coordenadora da iniciativa amazônica e membro do Conselho Diretor do ISA.