O controle da obesidade exige esforço conjunto do governo e da sociedade
“O excesso de peso ou obesidade aumenta o risco de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, pressão alta e doenças cardíacas. Isso não apenas ameaça vidas e a afeta a qualidade de vida, mas também atrapalha as metas econômicas e de desenvolvimento, reduzindo número de anos em que as pessoas podem desempenhar um papel ativo na força de trabalho”. Essa análise fez parte da apresentação da diretora e fundadora do Cedeba, endocrinologista Reine Chaves, na apresentação hoje pela manhã, na abertura oficial do evento do Dia Mundial da Obesidade, no auditório da Escola Estadual de Saúde Pública.
Ela apresentou dados recentes de 2024 da Organização Mundial de Saúde, que revelaram mais de um bilhão de pessoas vivendo com obesidade. Desde 1990 o número de pessoas com obesidade mais que dobrou, e quadruplicou entre adolescentes (5 a 19 anos). O sobrepeso, a obesidade e as doenças não transmissíveis relacionadas à dieta aumentaram progressivamente em todas as faixas etárias nas últimas décadas e se tornaram uma das principais causas de morte precoce e incapacidade
O QUE FAZER?
Segundo a endocrinologista, a gravidade da doença aponta a necessidade de ações que envolvam os ministérios, particularmente os do Meio Ambiente, Comércio, Finanças, Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Social. Também é preciso capacitar redes e organizações que já trabalham em nível comunitário como organizações da sociedade civil, pessoas com experiência vivida, grupos de jovens, líderes tradicionais, governos locais e organizações religiosas. “E somente trabalhando em conjunto –governo e sociedade- que será possível deter o aumento das taxas de obesidade.
Muito importante é tornar alimentos e bebidas não-saudáveis mais caras (por meio de impostos sobre bebidas açucaradas) ou dificultar a importação. Tornar alimentos e bebidas saudáveis mais fáceis de acessar e mais baratos, apoiar a alimentação saudável na gravidez e garantir que os bebês sejam amamentados exclusivamente nos primeiros seis meses de vida. Reine Chaves também destacou a importância de hábitos saudáveis na infância – menos exposição às telas e mais brincadeiras que façam criança se movimentar. O peso e altura das crianças devem ser monitorados, Alimentação saudável também é essencial bem como a prática de exercícios físicos, com a criação de lugares seguros e saudáveis.
COMIDA É CARA
Entre os fatores que contribuem para o aumento da obesidade, segundo a diretora do Cedeba, está a alimentação. A alimentação não saudável é barata, conveniente e tem seu consumo ampliado também pela força da publicidade. Já os alimentos saudáveis, cada vez mais difícil de obter, são mais caros, pois sofrem efeitos das secas, inundações e aumento dos mares causados pelas mudanças climáticas.
E alimentação saudável tem grande espaço no trabalho do Núcleo de Obesidade do Cedeba – fundado há 25 anos- bem à frente do tempo, uma vez que somente em 2015 a OMS definiu a obesidade como doença. A interdisciplinaridade do trabalho do Núcleo ficou bem definida no evento de hoje. Os Direitos e Garantias da Pessoa com Obesidade foram apresentados pela assistente social, Fátima Hipólito, que analisou as dificuldades para Tratamento Fora do Domicílio (TFD), garantia legal, quando há necessidade de transporte especial. Também abordou o BPC e o Auxílio-Doença.
O momento muito esperado pelos usuários com obesidade atendidos no Cedeba foi a apresentação do cirurgião bariátrico, Erivaldo Alves, sobre o tema “Fiz cirurgia bariátrica. E agora”? Ele disse que o pós-bariátrica exige acompanhamento, porque a cirurgia não cura obesidade, doença crônica. Na sua experiência de mais de 14 mil cirurgias, 20% voltaram a ganhar peso. É importante – disse – a perda de peso antes da cirurgia. Havendo a indicação, segundo o médico, a cirurgia bariátrica melhora a qualidade de vida, observando que as pessoas com obesidade tendem a morrer mais cedo. Ele também destacou a importância do apoio da família para quem faz cirurgia bariátrica.
CHORO DE EMOÇÃO
E a nova vida, a partir do controle da obesidade, está bem definida no relato do radialista e músico Ramon Carvalho,54 anos. Ele chegou a pesar 118 quilos. Com a bariátrica há 10 meses, reduziu para 90 quilos. Conta que chorou de emoção ao passar a usar tamanho M. O mais importante foram os ganhos na saúde. Com a redução do peso livrou-se da hipertensão, esteatose hepática (gordura no fígado) grau 3 e hipertensão arterial. Graduado em Direito, Ramon se expressa com muita clareza. Ele diz que a alimentação no pós-bariátrica é essencial, mas a suplementação de vitaminas e minerais é crucial, porque quem não pode comprar, passa enfrentar problemas de saúde.
A cabeleireira Joanice de Jesus Carvalho, 49 anos, moradora de Cruz das Almas, no Recôncavo baiano, que já pesou 106 quilos – mede 1,54 m- desceu para 68 com a cirurgia bariátrica. Antes sentia muitas dores, caía com frequência. Ficava difícil trabalhar. Depois da cirurgia plástica reparadora do abdômen, reforça os cuidados para não voltar a ganhar peso, tendo apostado na dança para ficar em forma e ganhar massa muscular. Ela chegou ao CEDEBA há seis anos, encaminhada pelo angiologista.” Eu não conseguia nem andar. Havia suspeita de trombose, mas o problema era o excesso de peso. Na sua avaliação” o acolhimento da equipe do Cedeba foi muito importante para que eu mudasse minha vida”.
O evento do Dia Mundial da Obesidade foi encerrado com sessão de alongamento. A fisioterapeuta Lorena Guedes não deixou ninguém parado. Primeiro bem devagar, movimentando cada grupo de músculo. E no final, ao som da música, pessoas com obesidade soltaram o corpo.
Ainda no evento, a participação da médica infectologista Tiana Mascarenhas com “O Mercado de Trabalho para Pessoas com Obesidade”. Todos os temas deram origem à Mesa Redonda com perguntas e respostas, coordenadas pela endocrinologista Thaisa Trujilho.
SESAB