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Pesquisadores da ALBA estudam a Batalha de Itaparica

Em janeiro de 1823, há 200 anos, ocorria um dos acontecimentos decisivos para a Guerra da Independência da Bahia: a Batalha de Itaparica, que terminou com vitória brasileira sobre os portugueses comandados pelo brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.

Essa batalha, que ocorreu na Vila de Itaparica no dia 7 de janeiro, vem sendo objeto de estudos de um grupo de pesquisadores da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). Nos últimos meses, eles vêm se debruçando sobre documentos relacionados não só ao que ocorreu na Ilha, como a outros fatos da história da Independência da Bahia, cujo bicentenário será comemorado em julho deste ano.

E Itaparica tem um capítulo fundamental nessa história de lutas, como explica o historiador Daniel Silva, um dos especialistas da equipe intersetorial reunidos pelo Legislativo baiano para resgatar fatos relacionados a esse período de fundamental importância para história da Bahia.

O grupo reúne especialistas e servidores que formam uma equipe intersetorial, com o Departamento de Pesquisa e Coordenação do Memorial à frente dos trabalhos. A principal fonte de consulta dos pesquisadores é o Arquivo Público do Estado, importante equipamento de preservação da história da Bahia e do Brasil, conforme explica Arlete Neiva, gerente do Departamento de Pesquisa da ALBA.

“Os pesquisadores da ALBA passaram alguns dias dentro do Arquivo Público fazendo o levantamento documental sobre os acontecimentos da Independência da Bahia”, explicou Arlete. Ainda segundo ela, além dos documentos, os historiadores conseguiram montar um relevante acervo com livros raros e obras sobre a história da Bahia, localizado no Departamento de Pesquisa, que servirá como importante material bibliográfico para a continuidade das pesquisas, com vistas, inclusive, ao lançamento de um livro.

Segundo o historiador Pierre Malbouisson, que também integra a equipe intersetorial, a Batalha de Itaparica e outros acontecimentos relacionados à Guerra da Independência poderão ser mais conhecidos no portal da Casa em uma página especial. O site foi lançado em dezembro e reúne textos referentes às batalhas decisivas para a derrota das forças lusitanas, à produção legislativa da época e à Independência da Bahia de forma geral. Além disso, explicou ele, o espaço virtual reúne a composição do Legislativo no período e tem fotos dos parlamentares da província.

Neste mês de janeiro, a Batalha de Itaparica ganhou atenção especial. Daniel Silva destaca a importância desse episódio para a Independência da Bahia. “Do ponto de vista de abastecimento de tropas portuguesas, Itaparica era uma posição extremamente importante”, explicou o historiador. “Por isso, ao longo de todo ano de 1822, eles vão tentando tomar Itaparica e, dessa forma, aconteceram várias escaramuças”, acrescentou Daniel Silva.

A ocupação era considerada fundamental para abrir um caminho seguro para o transporte de alimentos, como feijão, milho e farinha, que eram produzidos no Recôncavo, em especial a cidade de Nazaré, e abasteciam Salvador. Os caminhos por terra e por mar estavam bloqueados com o cerco das tropas de brasileiros à capital dominada pelos portugueses, resultando em escassez dos alimentos.

Além da questão do abastecimento, a posição da Ilha também era considerada estratégica tanto para portugueses quanto para brasileiros. Isso porquê ela fica bem no meio da Baía de Todos-os-Santos, com acesso a Salvador, à Ilha dos Frades e ao Rio Paraguaçu, que banha o Recôncavo e Cachoeira. Isso sem falar no Forte São Lourenço, localizado na Ponta das Baleias, próximo a Ponte do Funil, e que resiste até hoje na paisagem da Ilha.

“Em janeiro de 1823, Madeira de Melo tinha um grande problema para resolver: como alimentar uma das maiores aglomerações de tropas armadas da América Portuguesa?”, contou o historiador Daniel Silva.

E foi nessa guerra por suprimentos que aconteceu a tentativa de invasão de Itaparica, mas as tropas portuguesas foram duramente repelidas pelo exército patriótico formado essencialmente por populares – uma característica marcante da Guerra da Independência da Bahia.

“Era um exército formado por pessoas escravizadas, escravos libertos, que trabalhavam na terra que não era deles, e muitas mulheres”, explicou Daniel Silva. Nesse sentido, o símbolo principal do papel das mulheres na resistência aos portugueses é Maria Felipa de Oliveira, marisqueira negra que teria se engajado nas lutas.

De acordo com o pesquisador, existem muitas lacunas na historiografia sobre a participação de Maria Felipa, mas ele esclarece que às vezes a falta de documentação pode nos dizer algo. “Muitas vezes isso nos fala do viés de como a gente leu a história do Brasil ao longo dos anos. Porém, por outro lado, o fato de seu nome ter ficado tão forte na memória aponta para existência dela”, explica.

Outro personagem marcante da Batalha de Itaparica é Barros Galvão, que perdeu parte do braço e hoje é aclamado como um dos heróis da Independência. E assim, igual a ele, homens e mulheres da vila, em sua maioria negros e indígenas, foram para a linha de frente na defesa de Itaparica e conseguiram repelir os portugueses, nessa que é considerada uma batalha decisiva para o desfecho da Guerra da Independência da Bahia.

ALBA

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