Meio AmbienteNotíciasVera Cruz

Maré expõe carcaça de jubarte enterrada na praia e odor expulsa moradores na Bahia

Náuseas, dores de cabeça e ânsia são alguns dos sintomas que moradores e frequentadores da praia de Aratuba, na ilha de Itaparica em Vera Cruz, vêm sentindo desde que parte da carcaça de uma baleia jubarte enterrada no local começou a ser exposta acima da superfície, espalhando um intenso mau cheiro causado pela decomposição do animal.

A baleia morreu em alto-mar e foi levada até a praia pela maré no último dia 29 de agosto. O Instituto Baleia Jubarte monitorava o corpo do animal e acompanhou todo o processo até a chegada ao continente.

“Fizemos todo o procedimento de pesquisa, de medição do animal e sexagem. Vimos que tinha 12,5 metros, com cerca de 28 toneladas, era uma fêmea adulta. Fizemos coleta de material e instruímos as pessoas que estavam no local a não se aproximarem. O cheiro já estava bem fétido por conta da putrefação”, conta o médico veterinário Gustavo Rodamilans, coordenador do Projeto.

Rodamilans relata que, desde que foi acionado sobre o corpo da jubarte na praia, procurou a prefeitura de Vera Cruz para identificar o órgão responsável para atender à ocorrência, uma vez que, por lei, a responsabilidade de lidar com animais encalhados na praia, bem como a destinação adequada da carcaça, é da prefeitura local.

“A nossa contribuição é orientar a prefeitura a fazer (a remoção do animal) da forma correta. Eu cheguei para o pessoal da secretaria e perguntei se eles tinham um aterro sanitário, que seria o melhor lugar para enterrar o animal, mas disseram que não tinham e que não seria possível levar para um. Falei que era um animal muito grande e que talvez o ideal seria cortá-lo com uma motosserra e me disseram que não poderiam fazer daquela forma”, diz o veterinário.

A carcaça acabou ficando no local por quase seis dias sem destinação definida. O coordenador do instituto comenta que ainda havia orientado a prefeitura que o corpo poderia ser enterrado em uma praia, mas não naquela, por ter uma faixa de areia muito curta. A prefeitura, no entanto, sem dispor de maquinário adequado, enviou uma retroescavadeira para a praia de Aratuba, cavou um buraco e empurrou a carcaça para dentro, apenas para dias depois lidar com o animal voltando a aparecer na superfície.

Procurada, a assessoria do governo municipal comentou que aguardou o Instituto Baleia Jubarte para receber as orientações. “O instituto orientou que fosse enterrado o animal na faixa de areia mesmo. Então a prefeitura aguardou um período para conseguir uma máquina para enterrar o animal”, relatou ao CORREIO. Gustavo, contudo, reforçou que a instrução era que a baleia não poderia ser enterrada ali.

“Quando enterraram, eu olhei a foto e falei que uma maré grande iria desenterrar o animal… O problema não é enterrar na praia, isso pode ser feito, mas teria que ser em um local onde a maré não bata e não tire a areia do local. Além disso é preciso cavar bem fundo, mais de três metros de profundidade”, diz Gustavo Rodamilans.

Moradores deixam suas casas

Enquanto a situação não é resolvida, populares seguem convivendo com o mau cheiro no local. Em especial os moradores do condomínio Ponta de Aratuba, que fica em frente ao local de ‘sepultamento’ da baleia.

O forte odor é levado pelo vento para dentro das casas, causando transtornos para os condôminos. “Estamos convivendo cm essa situação de mau cheiro forte, muitos estão passando mal, vomitando. Algumas pessoas já até saíram de suas residências e ainda não foi resolvido o problema”, relata Jorge Andrade, que diz estar de viagem marcada para Salvador para escapar do fedor.

Sandro Costa, que já saiu de casa, se diz revoltado com a situação. “A prefeitura fez descaso com a situação e não toma nenhuma providência para o descarte. O odor é bem característico de peixe e óleo de baleia muito forte, chega a causar ânsia de vômito. Náusea e dor de cabeça também. Além disso, o perigo de ficar inalando esse odor é preocupante, visto que as bactérias podem afetar a praia, já que é um local de banho e passagem dos moradores”, desabafa.

Gustavo Rodamilans diz que não há estudos que indiquem a possibilidade de contaminação da praia, mas que a presença de bactérias e vírus normais da baleia poderiam causar doenças em humanos, além dos transtornos causados pelo mau cheiro. “Se o animal estivesse enterrado, não haveria problema nenhum, porque esses agentes infecciosos estariam contidos sob a areia.”

Para ele, o ideal a ser feito nesta situação atual é retirar o animal da cova e então levar seus pedaços para um outro local da ilha mais adequado para o descarte. “A recomendação é que (a prefeitura) pegasse os pedaços do animal, porque agora o animal já vai estar em pedaços por conta da decomposição, e tentar enterrar ou destinar da forma correta. Do contrário, o mar vai continuar lavando a área e cada vez mais expor a carcaça, e um animal desse demora um pouco para desintegrar”, diz.

Sobre o animal voltando a aparecer na superfície, a prefeitura comentou que o município está passando por um período de maré e ventos muito fortes, o que causou a remoção de parte da areia que cobria o corpo, e que irá resolver a situação em breve. “A prefeitura já está ciente disso e, assim que puder, vai enterrá-lo novamente.”

Foto:Morador

Correio

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *