Política

Bolsonaro e Lula na batalha dos “novos Circuitos” do 2 de Julho; quem venceu?

A Independência da Bahia é tradicionalmente comemorada em bairros que abrigaram a luta contra os portugueses; Pirajá e Lapinha são os destaques. Em 2022, Bolsonaro e Lula inauguraram novos circuitos. ACM Neto apostou no tradicional. Quem levou mais público?

Os festejos do 2 de Julho são marcados por manifestações populares e políticas. Em época de eleição, as ruas são tomadas pelos grupos políticos e seus candidatos. Em 2022, com as eleições para governador e presidente tomando conta das emoções, o cortejo foi marcado pela presença de vários dos candidatos ao Planalto.

Mas, o 2 de Julho de 2022 foi marcado por um fato novo. Os dois principais candidatos a presidente resolveram apostar e realizaram eventos fora do circuito tradicional, que contempla as ruas da lapinha até o Campo Grande. A aposta arriscada foi bancada pelo atual presidente da República, Jair Bolsonaro e pelo ex-presidente, Lula.

A disputa é arriscada porque envolve a possibilidade de ausência de público, o que expõe a fragilidade do político em um momento crucial da campanha. Enquanto no circuito tradicional é naturalmente povoado pelos frequentadores da festa, em um novo circuito, cada apostador terá que levar seus apoiadores para um cenário vazio.

Foi assim que, Bolsonaro abriu o circuito Farol da Barra, totalmente distante do tradicional Lapinha e sem qualquer resquício do festejo do 2 de Julho. Surpreendentemente, o Farol da Barra, Ondina e o Porto da Barra ficaram lotados de apoiadores do presidente. Motos, carros e bicicletas se misturaram a milhares de pessoas vestidas de verde e amarelo. Famílias inteiras e caravanas advindas de cidades do interior da Bahia.

Além de contar com uma massa em verde e amarelo no Farol e imediações, a Motociata puxada por Bolsonaro e João Roma arrastou mais motociclistas ao longo do percurso que incluiu Ondina, Costa Azul e parte da Orla até o Parque dos Ventos, que ficou totalmente lotado. As imagens, captadas por populares, tomaram conta das redes sociais e atestaram o sucesso do novo circuito, impedindo qualquer tipo de contestação.

O time de Lula

Em uma passagem meteórica pelo circuito principal do 2 de Julho, Lula, acompanhado pelo governador da Bahia e por lideranças petistas e dos partidos de apoio ao governo de esquerda na Bahia, misturou-se com a massa de pessoas que acorrem às ruas estreitas da Lapinha e tentou passar a impressão de que estava em um evento próprio. Entretanto, independente de Lula ou Bolsonaro, os festejos da Independência da Bahia anualmente lotam as ruas para ver a passagem do carro com o “Caboclo e a Cabocla”, símbolos da resiliência e força do povo baiano.

Depois de sua breve passagem, com sacadas vazias, Lula seguiu para seu circuito exclusivo. O local escolhido foi o estacionamento principal do estádio da Fonte Nova, às margens do Dique do Tororó e cercado por bairros populares – Engenho Velho de Brotas, Federação e Vasco da Gama dentre outros – seria o palco ideal para atrair o eleitor petista. Entretanto, as imagens, também veiculadas pelas redes sociais, mostram que o novo circuito não conseguiu atrair populares.

Em um terreno fechado e controlado, Lula recebeu iniciados do culto petista oriundos das cidades controladas por partidos da base de apoio e dos sindicatos que ainda respiram na Bahia. Nem mesmo as fortes associações de rodoviários, professores e petroleiros – histórica e intrinsicamente ligados ao petismo – conseguiram dar público ao ex-presidente Lula. Isolado em um mar de concreto do estacionamento da Fonte Nova, Lula repetiu o fracasso registrado no estádio Parque das Dunas, no RN, onde repetiu a mesma estratégia e falhou.

ACM Neto, o tradicional

Se Lula e Bolsonaro – leia-se; Roma e Jerônimo – escolheram circuitos alternativos para mostrar força, ACM Neto apostou no circuito tradicional da Lapinha e, com organização típica de que nasceu fazendo campanha, conseguiu se destacar dentro da massa de baianos que estariam no circuito com ou sem eleição. Um mar de azul tomou conta das ruas estreitas e cercadas de residências da Lapinha, Barbalho e adjacências e o neto de ACM mostrou que está dentro do jogo.

Sem temer a população, assim como Bolsonaro e Roma, ACM Neto circulou entre os populares com desenvoltura e recebeu o calor humano do eleitor e do baiano comum, aquele que vai ao circuito festejar a independência e tomar uma cervejinha. O destaque do festejo, sob a ótica política – no circuito histórico – foi o Azul do União Brasil

Simone Tebet e Ciro Gomes também passaram pela Lapinha, desapercebidos em meio a multidão. Houve que quem brincasse dizendo que, “se Simone Tebet resolvesse vender picolé da Capelinha faria sucesso e não seria importunada pelos batedores de smartphones que povoam as festas populares” . Ciro Gomes, desacostumado com o corre baiano, torceu o pé e voltou para o Campo Grande para assistir o resto da festa da sacada do hotel onde se hospedou.

Quem venceu a batalha dos “Novos Circuitos”

A ousadia de Bolsonaro e João Roma, que abriram o Farol da Barra para a Motociata da Independência, sem dúvida foi premiada pela presença maciça de apoiadores e de populares. Completamente fora do circuito tradicional da festa da independência, é impossível dizer que as milhares de pessoas de verde e amarelo não estavam ali para prestigiar Bolsonaro e Roma. Sim, elas foram para o evento feito por apoiadores para receber Bolsonaro.

Lula, por sua vez, conseguiu tornar real a quadrinha cantada em rodas de crianças; “fui no Tororó beber água, não achei”. A equipe de campanha de Lula e Jeronimo escolheu o estacionamento da Fonte Nova, às margens do Dique do Tororó (cheio de água não-potável) e mais uma vez conseguiu não levar seus 60% de eleitores para um bate-papo. O novo circuito petista, como dizem os jovens, “flopou”. Sem público orgânico, contanto apenas com a velha militância, Lula desmentiu o Datafolha na Bahia – o Instituto afirma que Lula tem mais de 62% das intenções de votos no estado – e não conseguiu lotar, como fez Bolsonaro e Neto, o circuito que escolheu para chamar de seu.

ACM Neto é o destaque no circuito Lapinha. Assumiu colorir sua gente com a cor de seu partido e, dentro da multidão costumeira do 2 de Julho, conseguiu ser visto e nota. Chamou atenção e demonstrou, face a passagem de Lula e Jerônimo pelo mesmo local, que não será surpresa de o 2º turno tiver ele e João Roma na disputa pelo Palácio de Ondina.

TAGS: 2 DE JULHO, ACM NETO, BOLSONARO, JERÔNIMO RODRIGUES, JOÃO ROMA, LULA

Nar4esenha

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