Prêmio Amabília Almeida de Visibilidade Feminina é entregue na Assembleia
A Assembleia Legislativa da Bahia começou a Semana Santa homenageando mulheres que se destacaram na vida pública, inspirando o empoderamento feminino e na defesa dos direitos das mulheres, com a entrega do Prêmio Amabília Almeida de Visibilidade Feminina. Promovido pela Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviços Públicos da ALBA, a primeira edição do ato, realizado nesta segunda-feira (11), no Auditório Jornalista Jorge Calmon, representa o reconhecimento do trabalho da educadora, ex-vereadora de Salvador e ex-deputada, que conseguiu inserir na Constituição Estadual um capítulo específico sobre os direitos da mulher, uma conquista inédita no Brasil daquela época.
Na abertura do evento, a presidente do colegiado, deputada Fabíola Mansur (PSB), enalteceu a trajetória política de Amabília, que foi uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia, participou da fundação do antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), implantou o Centro de Profissionalização da Mulher e criou a Comissão Especial da Mulher na Câmara de Salvador. A socialista também mencionou as honrarias recebidas pela professora ao longo da carreira, a exemplo da Medalha Anísio Teixeira, no Legislativo municipal, e do Diploma Bertha Lutz, no Senado Federal. “Nós temos a felicidade de dizer para o país e para o mundo que a Bahia tem, aos 92 anos, uma das pioneiras do feminismo e grande defensora dos Direitos da Mulher que está viva, um exemplo a ser seguido pela nossa juventude e uma eterna fonte de inspiração para todos nós”, afirmou a deputada, que destacou o papel de Sâmara Azevedo, uma pesquisadora, ativista e integrante do Coletivo Cacheadas e Crespas ao sugerir a iniciativa dessa premiação.
A legisladora lembrou que já está em tramitação no Parlamento baiano o Projeto de Resolução 03003/2022, para que a homenagem possa fazer parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher anualmente, sempre em março. O Diploma de Visibilidade Feminina foi concedido a mulheres que, no exercício das suas atividades profissionais, trazem cidadania, dignidade e respeito, sendo referência na luta e resistência para outras mulheres. Ao retornar depois de muitos anos à Casa Legislativa, Amabília Almeida confessou estar sensibilizada com a honraria, agradeceu humildemente à deputada “por ter encontrado algum mérito na minha pessoa” e compartilhou a premiação com todas as mulheres presentes “que são as verdadeiras fontes de inspiração da nossa caminhada”. A ex-deputada frisou que conseguiu se inserir no universo político de Salvador e da Bahia, tendo a clareza de que o mandato legislativo tem sua validade na medida em que possa contribuir para promover mudanças sociais. Para ela, projetos de lei, requerimentos e propostas que sejam aspirações coletivas devem sempre estar pautadas na ética e na dignidade. “Foi com esta compreensão que direcionamos o nosso trabalho em relação à educação, como instrumento de crescimento, promoção e libertação do ser humano”, pontuou.
CHAMA ACESA
Ao lado da presidente da Comissão dos Direitos da Mulher, deputada Olívia Santana (PC do B), Fabíola Mansur chamou as deputadas federais Alice Portugal (PCdoB) e Lídice da Mata (PSB) para serem contempladas com a placa. A ex-senadora considera que “a luta das mulheres é para ter visibilidade da nossa existência, para que todos nos olhem como um personagem da vida política, da sociedade, com direitos iguais, como afirmamos na Carta Magna de 88”. De acordo com a ex-prefeita da capital, “receber um prêmio com o nome de Amabília Almeida é uma felicidade total”. No seu pronunciamento, Alice Portugal recordou que a educadora é precursora das muitas ações e conquistas de nossas gerações, caminhos que foram abertos por feministas avançadas e revolucionárias. A comunista salienta que mulheres como Amabília Almeida, Loreta Valadares e Luiza Barrios “fazem com que a nossa chama continue acesa na defesa da igualdade, na rebeldia contra todos os preconceitos e todos os tipos de discriminações”.
Diversas mulheres e entidades foram agraciadas com o diploma. Adriana Santos, fundadora e coordenadora nacional do Coletivo Vai Ter Gorda, mostrou-se emocionada com o prêmio e defendeu ser de extrema importância o engajamento feminino na política, para que mais mulheres possam contar suas histórias e lutar em prol das categorias ou comunidades que desejam representar. Carol Barreto, professora de um Departamento de Estudos Feministas da Universidade Federal da Bahia, que nasceu em Santo Amaro, vivenciou na cidade natal a luta antirracista na prática e aqui desenvolveu, há dez anos, o projeto Modativismo, cuja intenção é “pensar a relação entre moda e ativismo político”. Também da terra de Dona Canô, Nancy Figueroa, presidente da Rede das Mulheres Periféricas, “sentiu-se muito feliz com a distinção, mas aproveitou a oportunidade para pedir melhores condições nas periferias das cidades, com a inclusão das mulheres e mais geração de empregos”.
“Para nós, mulheres pretas, sermos homenageadas em vida é muito importante, pois estamos mais uma vez ressignificando os nossos antepassados, já que eles foram durante muito tempo invisibilizados. Este é um momento especial, de agradecimento, de felicitação por um olhar diferenciado”, assim se manifestou Cássia Vale, museóloga, gestora cultural, escritora e pesquisadora. Giltânia Aquino, professora especializada em Transtorno do Espectro Autista (TEA), falou sobre “o trabalho de formiguinha, com as pessoas que ficam à margem da sociedade, uma atividade que na grande maioria das vezes não tem a devida valorização”. Karine Oliveira, fundadora da Wakanda Educação Empreendedora, foi outra mulher que levou para casa o Prêmio Amabília Almeida de Visibilidade Feminina. Dona de uma Startup, ela entende ser relevante um prêmio como esse que “reúne mulheres incríveis, fazendo a diferença em várias áreas, mas que não se conhecem por causa da ‘correria’ de cada uma. É um momento para se juntar, comemorar e fortalecer a união de todas as mulheres”, reforçou a empreendedora.
Shirley Costa, professora de matemática da Rede Estadual de Ensino; Janda Mawusi, pedagoga, educadora social e integrante da Rede de Mulheres de Terreiro; Márcia Teixeira, advogada, promotora de Justiça e conselheira do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH); Tiffany Odara, yalorixá, travesti e escritora; o Coletivo Pretas Por Salvador, representado pelas co-vereadoras Laina Crisóstomo, Cleide Coutinho e Gleide Davis, além do Núcleo da Defensoria Pública Estadual, formado pela servidora Eduarda Carvalho e as defensoras Gisele Aguiar, Eva Rodrigues e Laissa Rocha também receberam o prêmio. Laissa falou sobre o reconhecimento do trabalho feito por meio do Selo Escolar Antirracista, trazendo à tona esta discussão, buscando a transformação social, em busca de uma sociedade mais igualitária entre as pessoas. Participaram do ato, compondo a mesa, a secretária Estadual de Políticas para as Mulheres, Julieta Palmeira; a cantora trans de forró, Alyssia Anjos; Marizete Pires, da Ong Mulher por Mulher; Firmiane Venâncio, subprocuradora da Defensoria Pública do Estado da Bahia; a pesquisadora Renata Lima e a mestre em artes cênicas Andreia Fabia.
No concorrido encontro, a homenageada Amabília Almeida citou algumas intelectuais que inspiraram tantas mulheres extraordinárias pelo empoderamento feminino e declamou alguns versos que no passado escreveu na literatura de cordel: “Quando é que vão parar de tanto discriminar a mulher. Uns rejeitam-na porque é preta. Outras porque feia é. Quem pensar que na Bahia negra é só pra remexer, vai mesmo quebrar a cara. Quem tiver olhos, vai ver as negras e as outras mulheres, todas juntas, gritando alto, todas juntas lutando pelo poder”, finalizou.
ALBA