Vera Cruz

Vera Cruz: Um filho que diz “até breve”

A vida é feita de escolhas e por isso escolhi partir primeiro, e só depois explicar a partida.

Quando retornei para Vera Cruz, em setembro do ano passado, fui com a certeza de que não estava restabelecendo meu convívio com a cidade. Isso foi comprovado ao longo dos quase 9 meses que estive nas terras tupinambás. Ato que, com fatos, explico os motivos:

Desde as eleições municipais, usufrui poucas vezes, junto com minha família, dos serviços publicos básicos da cidade e na maioria das vezes houve ineficiência, morosidade ou até a não prestação deles – este último caso em destaque foi em menor quantidade, mas houve. Ou: não houve.

Vera Cruz continua uma cidade sem mobilidade, e sem uma resposta sanitária clara, visível e eficiente contra a pandemia que tanto nos aflige, que é a do novo Coronavirus.

Pra além da Covid19, a estrutura de saúde, assim como se viu nos 4 primeiros anos da atual gestão, continua em plena asfixia. No posto de Barra do Gil, por exemplo, trabalham num turno mais de 5 funcionárias. Sua maioria sem capacidade curricular para estar ali, uma vez que são simples atendentes ou serviços gerais e podem ser substituídas facilmente por qualquer outra mulher desempregada e desesperada por trabalho, como é o caso da maioria das mulheres da ilha. Em contraste, não há modernização tecnológica nos postos; não há interligação da rede com as demais estruturas da cidade e sequer com a própria secretária de Saúde. Secretaria que recentemente pegou fogo e levou arquivos tanto dela quanto da educação junto; e não há também suporte à vida, pois mesmo que sua característica seja a saúde da família e o atendimento clínico ambulatorial, o material humano necessário, ou seja: médicos e enfermeiros, está em falta.

Foram 9 meses em que observei a educação ser negligenciada de forma crônica. Acho que depois disso, o trauma no quesito educação em Vera Cruz vai ser sentido ao longo de toda a década de 20 deste século em nossa cidade. Não sou professor e nem cientista social, mas chuto dizer que até 2030 os efeitos da negligência em educação em Vera Cruz serão sentidos por conta o apagão que essa pasta sofreu na cidade, com a pandemia como pano de fundo. Espero estar errado, pelo amor de Deus!

Trabalhei em uma empresa e tive a missão de, além do meu trabalho de supervisionar, aumentar vendas e bem atender clientes, contratar funcionários. Nessa experiência, recebi currículos de mais de 1000 pessoas, a maioria mulheres, jovens e pasmem: SEM A MENOR CAPACITAÇÃO para o mercado. Claro, esse detalhe foi fundamental para o cumprimento da minha missão, e tenho o orgulho de dizer que contratei e ajudei a mudar a história de pessoas sem nenhuma experiência no mercado, mas que agora podem se orgulhar em ver suas carteiras assinadas com uma profissão. Bem como creio que os processos seletivos que realizei deve ter inspirados muitas jovens veracruzenses a não desistir e se prepararem melhor para o mercado, pois a invisibilidade delas e a negligência dos poderes da cidade para desenvolver ferramentas que mudem esse quadro vai ser devastador quando o progresso chegar e os forasteiros, com razão, irão tomar conta do mercado de trabalho.

Falando sobre progresso, a Ilha está loteada. Existe uma empresa com sobrenome de uma família que simplesmente já loteou toda área territorial para a especulação imobiliária. Isso, é claro, com a ajuda do gestor que sentou a bunda no PDDU da cidade, o modificou e garantiu assim as melhores fatias para os que menos é de direito: aqueles que podem pagar, deixando de fora aqueles que ali vivem o direito de decidir como bem empregar esta terra.

Vi agressões ao meio ambiente e vi políticos o agredir. Vi as chuvas chegarem e moradores que reclamavam da lama nas portas agora sofrem com as águas invadindo suas casas.

Vi muita coisa que sempre vi ao longo dos anos que morei na ilha e eu, que sempre andei viajando por aí, quando voltei, parecia que nunca tinha saído. Por isso, e por questões pessoais muito claras a respeito disso, decidi novamente viajar por ai.

Espero muito que quando voltar, pois eu sempre volto, a Ilha não esteja do mesmo jeito. Que as pedras que deixei em lugares específicos nao estejam no mesmo lugar como anteriormente ao retornar. Que não seja tarde demais para cada morador da ilha que sofre. Que a política não precise ser feita no Instagram e na beira da piscina da casa do prefeito e que no dia da urna nossos sonhos nao valham apenas R$150.

Até breve, Vera Cruz!

Por : Joaquim Castro

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