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Vacina não é passe livre para encontros

A infectologista do hospital Sírio Libanês, em São Paulo, Mirian Dal Ben, tem dois filhos e já está imunizada. Mas ela alerta que isso não é passe livre para os encontros. Assim como em 2020, o Dia das Mães desse ano será virtual.

“Minha mãe e minha sogra já tomaram a vacina. Eu estou vacinada, mas as crianças ainda não e estão indo para a escola. A doença está circulando bastante e a gente sabe que a vacina protege contra as formas graves da doença, mas mesmo assim você pode ter Covid assintomática e transmitir. Por isso, a gente vai continuar fazendo esse isolamento social. Vamos passar o Dia das Mães só na nossa bolha, no nosso núcleo familiar”, conta a infectologista.

“Será mais um Dia das Mães sem ver minha mãe pessoalmente.”
“Vamos falar por mensagem. Já encomendei um presente pra ela com recadinho e uma foto das crianças, mas optamos por passar um Dia das Mães um pouco mais seguro e sem dar chance para o vírus ser transmitido, não dar chance para essa cadeia de transmissão se perpetuar.”

Ela alerta que o Dia das Mães em 2021 será em uma situação epidemiológica (os números no Brasil seguem altos) bem mais complicada do que 2020. “Não faz sentido a gente relaxar ainda, mesmo os pais já estando vacinados. Ainda temos que esperar um pouquinho.”

“Se a pessoa fizer questão de ver a mãe, deve tentar minimizar os riscos: ver em um ambiente aberto, respeitando o distanciamento social, usando máscara, ficando distante na hora da alimentação. O risco é maior se você optar por ir ao restaurante, onde tem mais pessoas e, geralmente, o ambiente é fechado. É uma régua do risco: tem o risco menor e assumir o maior. Cabe a nós escolher qual o risco que vamos correr, estar ciente do risco, dentro das possibilidades que temos. Dar uma festa não é correto e nem permitido. Fazer uma festa com 20, 30 pessoas não é permitido”, completa Dal Ben.

Comida de mãe delivery
Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), também vai passar com o núcleo familiar. Ela tem três filhos – dois moram com ela e outro fora do país – e ainda não foi vacinada. Os pais, maiores de 85 anos, já tomaram as duas doses.

Ela conta que a família sempre foi adepta de grandes comemorações, mas que esse ano não será possível. “Sou a caçula de seis irmãos. E eu sou aquela que vai impedindo as pessoas de fazer as coisas. A família pergunta: a Ethel deixou? Não deixou. Cada um vai passar na sua casa.”

“Minha mãe vai fazer o almoço e os filhos vão pegar a comida gostosa da mamãe.”

“Meus pais sempre reuniram toda a família. Minha mãe sempre cozinha, tem 85 anos, mas sempre cozinhou e cozinha. Ela vai fazer o almoço e meus irmãos que moram próximo vão pegar a comida e levar para casa para comemorar com os filhos que moram com eles. É assim que a gente vai passar: sem aglomerar, mantendo o distanciamento físico e buscando a comida de máscara”, diz a epidemiologista.

Maciel diz que é hora de proteger a família, mesmo que todos estejam imunizados. “Precisamos fazer assim [sem aglomerações] para proteger os nossos familiares, mesmo os que estão vacinados. Precisamos continuar com as medidas de prevenção.”

Só o núcleo familiar
A mãe do médico Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), faleceu no meio da pandemia de Covid-19. Ele mora com a esposa, a sogra e com uma das filhas. Neste ano, mesmo depois de ter tomado a vacina, a comemoração será só com o núcleo familiar.

“Nós já tomamos as duas doses da vacina [Kfouri, a mulher e a sogra]. Mesmo com a vacinação, não vamos aglomerar. Passaremos minha sogra, minha esposa e minhas duas filhas. Seremos só nós. Nosso núcleo doméstico e minha filha que vai vir, que está bem isolada. Ela é psicóloga e já tomou uma dose da vacina”, conta.

Em outros anos, a reunião familiar era maior. “Minha esposa tem uma irmã, com três filhos que estão na escola. Então não vamos juntar. Se fosse antes, o almoço seria com a família inteira – meu irmão, minha sogra, cunhada. Esse ano ficaremos separados.”

“Nós nos acostumamos com os números. Agora, estão morrendo três mil pessoas por dia. Em 2020, estávamos com 11mil [nessa época].”
Kfouri faz um alerta: não é hora de aglomerar.

“A experiência já mostrou: na hora que você fala ‘podemos voltar a liberar o bar, vamos parar a restrição’, isso é muito mal compreendido pela população. As pessoas enchem o bar, fazem festa, lotam as praias. Não tem uma volta escalonada e as recomendações não são obedecidas. Ainda estamos em um nível [de casos e mortes] muito alto. Daqui a pouco vamos estabilizar em um número perigoso. É muito alto para falar em relaxamento, movimentação. Tememos que o Dia das Mães seja mais um gatilho para outro crescimento de casos.”

(G1)

Foto: Tânia Rêgo

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