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ALBA debate as causas e consequências dos assassinatos de Bruno e Yan

“Foi um crime bárbaro. Os dois jovens perderam a vida de uma forma cruel, trazendo tanto sofrimento para a família e também para todos nós. Não podia acontecer. Se eles tinham errado, quem havia de dizer era a Polícia. Se cometeram erros, deveriam pagar, mas não desse jeito. A Justiça é quem deveria dizer isso”. Mostrando indignação pelo brutal assassinato de Bruno e Yan, a presidente da Comissão Especial de Desenvolvimento Urbano da Assembleia Legislativa, deputada Maria del Carmen (PT), deu início, na noite da quinta-feira (20), à audiência pública “Episódio Atakarejo: Responsabilidade, Modelo e Contratação de Segurança Ilegal pelos Supermercados”.

A parlamentar informou aos mais de 50 participantes da reunião virtual, transmitida pela TV ALBA, que a sessão foi solicitada pelo Sindicato dos Vigilantes da Bahia para denunciar a prática das redes de supermercados que contratam pessoas não qualificadas para atuarem na área de vigilância. José Boaventura, presidente do Sindvigilantes/BA, ressaltou que a categoria ficou incomodada com a repercussão do crime e foi incisivo: “Os vigilantes não matam pessoas, não matam cidadãos, não são agressores. No histórico de violências ocorridas em anos anteriores, em supermercados na Bahia, não existe registro de qualquer participação de vigilantes”, revela o sindicalista.

De acordo com Boaventura, é preciso fazer uma diferenciação correta entre quem é vigilante, quem é trabalhador de segurança privada regular e pessoas “que se transvestem de segurança, mas que na realidade são pessoas contratadas pelos estabelecimentos para o trabalho na prevenção de perdas de mercadorias”. O dirigente explica que para exercer a profissão como vigilante o profissional precisa ter o curso e o registro na Polícia Federal, e com a obrigação, a cada dois anos, de provar que continua apto, física e mentalmente, além de possuir antecedentes criminais limpos, em condições de trabalhar.

CRIME E TORTURA

Bruno Barros, de 29 anos, e Yan Barros, foram encontrados mortos, no dia 26 de abril passado, dentro de um carro na antiga Invasão da Polêmica, bairro de Brotas, na capital baiana. Segundo informações da Polícia Civil, o tio e o sobrinho foram torturados e receberam diversos tiros. Bruno e Yan, dizem os familiares, foram acusados de furto de carne no Atakarejo de Amaralina e teriam sido entregues a traficantes por funcionários do supermercado. O presidente do Sindicato dos Vigilantes pediu a continuidade deste debate e fez questão de deixar bem clara sua posição quanto aos homicídios: “Quem entregou Bruno e Yan às facções não foi vigilante. Quem pegou os dois, levando para cárcere privado foram pessoas utilizadas de forma irregular que seguiram e cumpriram ordens do Atakarejo”, declarou.

A reunião do colegiado para discutir os fatos, consequências e apuração dos assassinatos contou com o apoio de duas outras comissões da Casa Legislativa. Por se encontrar com outros compromissos agendados no interior da Bahia, o deputado Jacó Lula da Silva (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública, não se pronunciou, mas a colega Maria del Carmen comunicou que o parlamentar tem se mobilizado para esclarecer diversos pontos ainda nebulosos neste triste caso que enlutou a família Barros. Fátima Nunes, deputada que preside o Colegiado Especial da Promoção da Igualdade, classificou como “uma tragédia o que se discute neste encontro e lamentou que vidas estejam sendo perdidas, mais de 521 anos depois, por causa desse racismo estrutural e institucional”.

Quem também fez uso da palavra foi a deputada Olívia Santana (PC do B). A presidente da Comissão dos Direitos da Mulher se solidarizou com a vendedora ambulante Elaine Costa Silva, mãe de Yan, e criticou a narrativa que a rede de supermercados vem construindo sobre o episódio. “A mesma empresa que matou duas pessoas por um pedaço de carne, agora está gastando uma fortuna em comerciais na mídia para defender a imagem e transformar apenas os seguranças, que executaram a ação de entregar os jovens aos grupos criminosos, como únicos responsáveis”, afirmou a comunista. Olívia entende que havia uma conexão com essa organização criminosa há mais tempo, precisando saber “o que é que esse pessoal ganhou para realizar esta ação e quem pagou”.

A vereadora Marta Rodrigues (PT) defende uma campanha de boicote à Rede Atakarejo, para que toda a categoria dos vigilantes, o povo negro da Bahia e outros grupos da sociedade, “não façam mais compra de produtos nos referidos supermercados, como forma de protestar pelas vidas negras que importam e estão sendo assassinadas”. O defensor público Gil Braga garantiu que a instituição está atenta aos desdobramentos do caso e que está trabalhando em duas linhas. Individualmente, já fez o atendimento e o acolhimento necessário da mãe de Yan e coletivamente vai buscar uma ação para evitar que fatos desta natureza se repitam. Posteriormente, antecipa Braga, a Defensoria Pública deve entrar com uma medida processual, provavelmente uma ação indenizatória, após o final do inquérito.

Saudando a presença de Raimundo Gonçalves, o Bujão, representante do Movimento Negro Unificado (MNU) e dos diretores do sindicato dos vigilantes Edvaldo Rosa (Juazeiro) e Wilson Pereira (Feira de Santana), a presidente da Comissão Especial de Desenvolvimento Urbano elogiou a contribuição de todos e repudiou mais uma vez a perda de duas vidas. “Eu, o deputado Jacó, a deputada Fátima Nunes e o deputado Osni estivemos com o secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino, e ele assumiu o compromisso, com a bancada do PT, de que iria até as últimas consequências para elucidar completamente esse crime com a maior rapidez”, concluiu a parlamentar.

(ALBA)

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