Prêmio Maria Felipa 2020 é realizado online e enaltece a luta da mulher negra
A pandemia do novo coronavírus tem obrigado inúmeros setores de serviços, comércios e ambientes de trabalho a se reinventar. E com o Prêmio Maria Felipa, que chega à 11ª edição, não foi diferente: já com o costume de inovar nos anos anteriores, em 2020 mudou radicalmente o formato e foi realizado de forma virtual, transmitido às 16h deste sábado (25) pelas redes sociais e canais da vereadora Ireuda Silva (Republicanos) e pela TV Câmara Salvador. Como sempre, foi marcado por espírito de celebração e resistência, emocionando todos os participantes.
Criado há 10 anos pela então vereadora Vânia Galvão, a honraria também já esteve a cargo da ex-vereadora e ex-deputada Tia Eron (PRB). O objetivo é reconhecer a atuação de mulheres negras em prol da autoafirmação, da luta por espaços e contra a discriminação racial. Neste ano, foi realizado no Teatro Jorge Amado, na Pituba, sem a presença do público e seguindo todos os protocolos recomendados pelas autoridades sanitárias.
De acordo com Ireuda, houve uma grande possibilidade de o prêmio não acontecer este ano. Porém, após várias semanas de planejamento, esforço conjunto e conversas com médicos e outros profissionais do campo da saúde, chegou-se à ideia de um formato que permitiu a realização do evento de forma segura, mantendo a tradição de enaltecer as mulheres negras que se destacam na luta contra o racismo.
“Na edição passada, falei: ‘Espero que ano que vem não seja diferente’. Mas quem poderia imaginar que, em pleno 2020, estaríamos atravessando a maior crise sanitária dos últimos 100 anos? Mas, apesar dessas dificuldades que independem da nossa vontade, nos esforçamos para ressaltar o protagonismo daquelas guerreiras, que garantiram o brilho do evento mesmo sem a presença do público”, diz Ireuda, que é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão de Reparação.
Ainda de acordo com a republicana, o Prêmio Maria Felipa firmou-se de vez como uma das principais iniciativas voltadas para o reconhecimento e a valorização de mulheres negras com trajetórias de destaque. “O fato de termos conseguido levar adiante a 11ª edição em um momento tão complicado, ganhando forte adesão das premiadas, dos espectadores e de tantas outras pessoas envolvidas direta e indiretamente na produção, demonstra a solidez que o projeto adquiriu. Há consciência formada de que o talento e a perseverança dessas guerreiras não devem ser menosprezados”, acrescenta.
A transmissão começou com a emocionante performance musical da Lizandra Gonçalves, que interpretou a canção “Rise up”, de Andra Day, seguida pela apresentação lírica e reflexiva de Cátia Andrade. Já a condução da cerimônia ficou a cargo da anfitriã, a vereadora Ireuda Silva, e da jornalista Débora Oliveira.
Com biografias ricas, cada uma das homenageadas discursou sobre suas respectivas trajetórias, ressaltando a importância de enfrentar os obstáculos impostos pelo machismo e pelo racismo institucional. Neste ano, 12 nomes integram a lista de premiadas: Ana Amélia (médica oncologista), Ashley Malia (jornalista), Flávia Barreto (major da PM, Ronda Maria da Penha), Carolina Santana (guarda municipal), Juliana Galvão (psicóloga), Luana Assis (jornalista), Noemia Araújo (liderança comunitária), Charlene da Silva Borges (defensora pública federal), Jeane Cordeiro de Oliveira (empresária), inspetora Amado (Guarda Municipal), Carol Barreto (estilista), Maria das Graças (marisqueira) e Ana Teles (empreendedora).
O evento também foi marcado por uma homenagem à republicana, feita por sua assessoria. “Vereadora Ireuda Silva, você representa a força e a garra das mulheres negras do Brasil. Sua responsabilidade, dedicação e luta pelos direitos das mulheres fazem de você uma heroína da história. Nós a parabenizamos pelos seus quatro incansáveis anos de mandato e temos certeza que fará muito mais pelas mulheres negras do Brasil”, diz a mensagem lida na ocasião.
Após agradecer, a vereadora ressaltou o protagonismo e a força das premiadas. “Elas preenchem a lacuna que há dentro de nós, o vazio de muitas mulheres que infelizmente, devido à nossa sociedade, não conseguem chegar a lugar nenhum. E quando você vê uma dessas mulheres subindo aqui com uma força tão grande e que arrasta com elas centenas de milhares de outras mulheres, isso nos fortalece e preenche a minha alma de alegria. Por isso não vou chorar, por mais que eu esteja emocionada. Eu não fazia ideia de que receberia o prêmio Maria Felipa pela segunda vez. Agradeço a todos os que acreditaram em mim e abriram as portas para que eu pudesse passar”, finalizou Ireuda.
A premiada Anna Telles ficou encarregada do desfecho com sua interpretação da música “Olhos coloridos”, de Sandra de Sá.
Quem foi Maria Felipa?
Maria Felipa de Oliveira foi uma marisqueira e pescadora que viveu na Ilha de Itaparica. Assim como Joana Angélica e Maria Quitéria, ela lutou pela Independência da Bahia. Em 1823, lidero um grupo composto por mais de 200 pessoas, entre as quais estavam índios tupinambás e tapuias, além de outras mulheres negras, nas batalhas contra as tropas portuguesas que atacavam a Ilha. Conta-se que o grupo foi responsável pela queima de pelo menos 40 embarcações portuguesas.
ASCOM