O que são arboviroses? Novo teste as identifica em menos de 20 minutos
O número de casos de dengue no Brasil registrou aumento de 339% em relação ao ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde. Até abril, foram 451.685 casos prováveis da doença no País. Além da dengue, segundo a pasta, 994 municípios têm alto risco de surto de zika e chikungunya, disseminados pelo mesmo mosquito: o Aedes aegypti . Esses três vírus são classificados como arboviroses, ou seja, transmitidos por insetos e aracnídeos.
Melissa Palmieri, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações de São Paulo e médica especialista em vigilância em saúde pelo Ministério da Saúde, afirma que hoje em dia é muito difícil diferenciar os tipos de arboviroses . Apesar de terem algumas características marcantes, a dengue, zika e chikungunya têm sintomas parecidos, o que pode confundir e dificultar o diagnóstico.
Sendo assim, pesquisadores do Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz, resolveram desenvolver um teste para diagnosticar essas doenças de forma mais rápida e eficiente. Utilizando apenas algumas gotas de sangue, a nova tecnologia consegue revelar o diagnóstico de um paciente em menos de 20 minutos e dizer se a doença está em fase aguda ou convalescente. O novo teste já foi aprovado pela Anvisa e tem quatro tipos: os que identificam dengue, zika e chikungunya e um que faz o diagnóstico dos três vírus simultaneamente.
De acordo com a Bio-Manguinhos, o exame será implantado, a princípio, apenas na rede pública, mas ainda não há data para que isso aconteça. “Esses testes possuem um desempenho muito bom – sensibilidade e especificidade – praticidade, não necessitando de ambiente laboratorial para ser realizado, além da inovação, pois, no caso do teste triplo, será possível fazer o diagnóstico simultâneo das três viroses mencionadas”, informou a assessoria da Bio-Manguinhos .
“É muito importante que o Ministério da Saúde adquira essas novas tecnologias, as quais vão auxiliar o médico a saber mais rapidamente qual arbovírus ele está enfrentando”, opina Melissa Palmieri. “Também vai ser muito importante para a vigilância epidemiológica e ambiental para fazer ações corretas e oportunas para a redução de riscos de casos secundários”. A médica ressalta, porém, a preocupação para que o novo teste possa ser conduzido em cada Unidade Básica de Saúde (UBS).
Apesar de serem os que mais influenciam na saúde da pública do Brasil atualmente, a dengue, zika e chikungunya não são os únicos arbovírus com risco de incidência no País. Em maio, o laboratório de virologia molecular da UFRJ divulgou que seus pesquisadores confirmaram casos de uma nova doença em três pacientes infectados em 2016: O Mayaro.
Que vírus é esse?
O mayaro foi registrado no Brasil pela primeira vez em 1955, em um surto em Belém do Pará. Há quatro anos, a doença apareceu em Goiás e, em 2019, voltou a se manifestar no Rio. O vírus é endêmico na Amazônia e normalmente se propaga em locais mais próximos a florestas. Diferente da dengue, é transmitido pelo mosquito Haemagogus, também conhecido por disseminar a febre amarela silvestre.
Entre os sintomas já conhecidos estão a febre alta – acima de 38ºC e de curta duração – dor de cabeça, manchas vermelhas pelo corpo e náuseas. Além disso, assim como a chikungunya,a doença é marcada por dores e inchaço nas articulações. De acordo com a dra. Melissa, os dois vírus são considerados parentes.
“O mayaro é um primo da chikungunya, com características e sintomas parecidos, mas mais suaves. Por isso, quando descreveu-se que três casos foram identificados geneticamente pelo vírus do mayaro, começou-se a pensar se todas as suspeitas clínicas do chikungunya poderiam ser na verdade mayaro”, explica.
A especialista afirma ainda que a descoberta do vírus no estado deixou médicos e cientistas em alerta pois, apesar de ser uma manifestação mais moderada com relação aos sintomas, alguns casos levam à hemorragia, quadros neurológicos e até à morte. “Tem que ser levado em conta se haverá uma magnitude de entrada desses vírus, que era usualmente de áreas silvestres. O nosso grande medo é que ele se adapte a áreas urbanas.”
Pesquisadores da Bio-Manguinhos afirmam que já vêm trabalhando para que o novo teste identifique o mayaro, por meio da prospecção de proteínas e alvos moleculares. Além disso, o órgão pretende que o exame também diagnostique outras arboviroses, como o Oropouche, transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis , que também já registrou casos no Brasil.
Como diferenciar, prevenir-se e tratar as arboviroses?
A dengue tem como características mais marcantes a febre alta – que pode durar de dois a sete dias – dor de cabeça, dores articulares, náuseas e vômito. Além disso, vermelhidão nos olhos e no corpo com coceira também podem aparecer a partir do quarto dia. O Oropouche , por sua vez, é marcado por febre, calafrios, dor de cabeça, dor nas articulações, fotofobia, tontura e náuseas.
Enquanto isso, muitos dos casos de zika são assintomáticos. Normalmente a doença é descoberta a partir do momento em que surgem manchas na pele o que, diferente da dengue, acontece em todos os pacientes. Outra diferença é que a febre normalmente é baixa ou nem chega a se manifestar. Todos os outros sintomas são os mesmos.
No caso do chikungunya, a febre alta volta a aparecer. Além disso, as dores articulares podem se tornar crônicas, ou seja, podem durar meses ou até anos. Vale lembrar de outro arbovírus que já registrou diversos casos no Brasil: a febre amarela . Por mais que seja transmitida pelo mesmo mosquito do mayaro em áreas silvestres, a doença possui o mesmo vetor da dengue, zika e chikungunya em áreas urbanas.
O Aedes aegypti transmite o vírus, que tem como sintomas febre, dores musculares pelo corpo (principalmente nas costas), perda de apetite, fotofobia, náuseas, vômito, fraqueza, olhos, face ou língua avermelhada e dores de cabeça. Além disso, a insuficiência hepática deixa a pele amarelada e pode causar até hemorragias.
Não existe um antiviral específico para nenhuma dessas doenças. Sendo assim, é importante se atentar às diferenças, já que o tratamento é sintomático. Além disso, as únicas arboviroses que possuem vacina são febre amarela e a dengue, recomendada para pacientes de 9 a 45 anos.
Por outro lado, a Fiocruz informou, em maio, que pesquisadores da universidade de Oxford, na Inglaterra, já realizam testes em humanos para implantar uma vacina contra chikungunya. No entanto, ainda não é certo que o tratamento vá funcionar corretamente e não há previsão para que a vacina chegue ao Brasil.
Enquanto a ciência se encarrega de descobrir novas formas de evitar as arboviroses , o único modo de prevenção é se proteger dos mosquitos e estar atento à formação de água parada. A dra. Melissa Palmieri recomenda que, além das barreiras mecânicas, como roupas compridas para evitar a picada do inseto, sejam utilizadas barreiras químicas. “A barreira química também é importante, com uso de repelente. O ideal é de manhã e antes do entardecer, que são os horários que o mosquito sai para se alimentar”, defende.
Fonte: iG