A revolução dos robôs cuidadores está por vir?
Filmes como Frank e o Robô (2012) e Eu, Robô (2004), assim como desenhos animados como Os Jetsons, retratam um futuro onde empregados robóticos realizam tarefas domésticas, permitindo que as famílias passem mais tempo juntas e que os idosos fiquem independentes por mais tempo.
Um futuro de cuidadores robóticos está mais próximo do que podemos imaginar. Aspiradores de pó e cortadores de grama autômatos já estão disponíveis, por exemplo.
E, no Japão, já existe uma intensa absorção de tecnologias de assistência e reabilitação para o cuidado de idosos.
O robô Pepper, da Universidade de Middlesex, em Londres, apareceu recentemente diante de um comitê parlamentar no Reino Unido para responder a perguntas sobre o papel dos robôs na educação.
Os robôs cuidadores, enquanto isso, são um fenômeno relativamente recente. Com o envelhecimento populacional no mundo, há uma crescente demanda por assistência na rotina de idosos.
No entanto, a falta de cuidadores disponíveis poderá provocar uma crise num futuro próximo. O Japão, por exemplo, prevê enfrentar um déficit de 370 mil cuidadores até 2025.
Possibilidades tentadoras
Embora as atuais tecnologias de assistência ainda estejam muito longe de preparar nossas refeições ou realizar nossas tarefas domésticas, elas dão uma tentadora ideia das possibilidades futuras.
A maioria dos robôs hoje é usada na indústria pesada e na manufatura, onde tarefas perigosas e repetitivas são realizadas rotineiramente por sistemas automatizados.
No entanto, esses robôs industriais pesados não são projetados para operar na presença de pessoas, pois se movem rápido e são feitos de materiais rígidos, que podem causar lesões.
Os robôs colaborativos de hoje, ou cobots como são conhecidos, são feitos de materiais rígidos. Ao trabalhar próximo de seres humanos, sua velocidade é controlada para garantir que eles possam interagir de forma segura.
Para melhorar a segurança, as próximas gerações de robôs colaborativos devem ser feitas de materiais mais macios, como borracha, silicone ou tecido.
“Esses robôs são seguros por natureza, devido às propriedades materiais de que são feitos”, diz Helge Wurdemann, roboticista da University College London.
“Eles prometem alcançar a precisão e a repetibilidade dos atuais robôs colaborativos e, ao mesmo tempo, garantir uma interação segura com os humanos.”
Um dos maiores desafios é que os sistemas de interação de robôs com humanos ainda não estão totalmente desenvolvidos. Eles funcionam até certo ponto, mas podem facilmente se confundir, como aspiradores de pó robóticos que não retornam à base de carregamento.
Em condições simples de laboratório, os robôs conseguem determinar o melhor caminho a seguir, mas em um ambiente real, como uma casa cheia de mesas, cadeiras e bagunça, é bem diferente.
“Muitos desses algoritmos foram desenvolvidos em laboratório e são relativamente simples em comparação com o nível de desordem e atividade humana dentro de uma casa real”, explica Nicola Bellotto, cientista da computação da Universidade de Lincoln e gerente técnico da Enrichme, um projeto que visa a construir robôs para ajudar a cuidar de idosos.
Desafios pela frente
Robôs também sofrem com mudanças de superfície e, como os temidos Daleks de Doctor Who, escadas. Em 2017, um robô de segurança em Washington DC “se afogou” depois de tropeçar em nos degraus de uma fonte em um escritório.
Operar com segurança na presença de crianças e animais também pode ser um desafio, como demonstrado em 2016, quando um robô de segurança atropelou uma criança em um shopping no Vale do Silício depois que ela correu em sua direção.
A coordenação do movimento em resposta às informações do sensor é outro desafio da robótica – o que, por sua vez, afeta a habilidade do robô de interagir com o ambiente. Eles podem ter dificuldade com tarefas que a maioria dos humanos, e até cães, achariam bastante simples, como pegar uma bola.
Isso se deve aos vários fatores que precisam ser considerados, os quais podem sobrecarregar um sistema autônomo e provocar erros.
“Do ponto de vista da aprendizagem da máquina, a maioria das decisões é mais fácil de tomar do que as tomadas por um robô”, diz Diane Cook, co-diretora do Laboratório de Inteligência Artificial da Universidade do Estado de Washington.
“Algumas tarefas que são mentalmente desafiadoras para os seres humanos são mais simples para os robôs, enquanto alguns dos movimentos simples para os seres humanos são bastante desafiadores para os robôs.”
Há também a questão de saber se queremos que nossos cuidadores robóticos se pareçam com humanos. Existe o conceito do “vale misterioso” – onde objetos que quase, mas não exatamente, imitam a forma humana podem dissuadir as pessoas de usá-los.
Em vez disso, os robôs seriam projetados esteticamente em torno de suas funções, como é o caso dos aspiradores de pó robóticos.
“Quanto mais se parece com um humano, mais a pessoa que recebe o cuidado vai resistir ao robô”, diz Cook. “Um robô só é útil se a pessoa que está sendo cuidada o aceita.”
Robô humano?
Em alguns casos, um robô com feições de seres vivos pode ser exatamente o que se precisa. Animais robóticos, como o Paro, estão começando a ser usados como animais de estimação em casas de repouso como companheiros.
Muitos robôs modernos são específicos para uma determinada função, como os aspiradores, e não máquinas multifuncionais. Projetar um sistema robótico para atender a várias funções pode ser um desafio, especialmente se suas tarefas não estiverem relacionadas entre si.
Num futuro próximo, pelo menos, é provável que tenhamos vários cuidadores robôs, cada um projetado para uma função. Isso levaria, no entanto, a outro problema: onde guardar todos eles quando não estiverem em uso.
Houve também avanços recentes na integração da tecnologia de casas inteligentes com sistemas robóticos, com o objetivo de criar residências com sistemas automatizados incorporados.
Um desses exemplos é Chiron, um projeto de pesquisa para desenvolver um sistema sob um trilho no teto que permitiria que um robô de assistência fosse de cômodo em cômodo, usando adaptadores específicos para o ambiente em que se encontra.
Mudança estrutural
Devido aos desafios inerentes de navegação e mobilidade enfrentados por um robô em um ambiente doméstico, este sistema dá uma ideia de como as máquinas podem ser integradas à própria estrutura de nossas casas. Mas também apresenta seus próprios desafios.
Para suportar uma rede de trilhos no teto, a casa deveria passar por mudanças profundas antes que o robô pudesse operar. Claro, casas de cuidados sob medida poderiam ser construídas com o sistema já instalado. No entanto, os altos custos das instalações seriam outro grande desafio a ser superado.
Em última análise, os robôs cuidadores vão auxiliar, mas não substituir os cuidadores humanos, já que a robótica nunca poderá reproduzir a companhia que vem de uma pessoa de carne e osso. Nem mesmo a simulação mais avançada de uma pessoa por um robô pode realmente imitar um ser humano.
Em vez disso, ter tecnologias para executar as tarefas fisicamente exigentes permitiria que os cuidadores operassem com mais eficiência.
“Os robôs não substituem necessariamente os empregos das pessoas, mas podem melhorar a maneira como elas trabalham”, diz Helen Dickinson, especialista em serviços públicos da Universidade de New South Wales.
“Não é apenas deixar de fazer os trabalhos mais físicos, embora certamente exista interesse em fazer com que os robôs realizem tarefas que exijam paciência e repetição, onde as pessoas ficam exaustas.”
É totalmente possível que, um dia, tenhamos tecnologias de assistência em casa, mas os sistemas mais avançados não estarão aqui tão cedo, ou da forma como são retratados na ficção.
Nesse cenário, nossas próprias casas poderiam se tornar nossos cuidadores, com unidades robóticas virando uma extensão da construção.
Assim, a revolta dos robôs poderia ser reduzida a eles simplesmente se recusando a lavar louça. (BBC)