Reação do corpo ao zika também pode causar microcefalia, diz estudo
Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, chegaram à conclusão de que as anomalias fetais advindas da infecção pelo vírus da zika podem ocorrer de forma conjunta: tanto o vírus quanto proteínas do sistema imunológico ativadas para combatê-lo podem provocar abortos e prejudicar o desenvolvimento de bebês.
A pesquisa foi publicada nesta sexta-feira (5) na “Science Immunology” e liderada pelo imunobiologista Akiko Iwasaki, de Yale.
Antes, já se sabia que proteínas produzidas para combater agentes invasores conhecidas como “Interferon” eram ativadas durante a infecção, mas não havia muita clareza sobre o seu papel.
Agora, pesquisadores acreditam que o Interferon está ligado às anomalias. Para testar essa hipótese, primeiramente pesquisadores acasalaram cobaias. Depois, infectaram fêmeas gestantes com o vírus da zika.
Um passo importante da pesquisa foi que os cientistas retiraram o receptor de Interferon nas fêmeas antes do acasalamento. Nos machos, o receptor foi mantido.
A substância Interferon, que é produzida pelas células de defesa, precisa ter uma estrutura receptora para funcionar. A retirada do receptor, assim, é uma maneira de fazer com que o composto seja inativado –o que possibita que a hipótese dos cientistas seja testada.
Os primeiros resultados em cobaias
Como resultado do experimento, fêmeas tiveram fetos com e sem o receptor. No primeiro resultado, cientistas observaram que fetos com o receptor tinham mais cópias do vírus no organismo — uma consequência esperada da inativação do antiviral natural, que diminui a replicação do micro-organismo.
O curioso, no entanto, é que mesmo tendo menos cópias do vírus os fetos com o receptor foram abortados no início da gravidez. Cientistas observaram que a placenta nesses casos apresentava vasos sanguíneos disfuncionais e também foram observadas evidências de estresse celular.
Com isso, cientistas acreditam que leva ao aborto na gravidez é a resposta imunológica e não necessariamente o vírus. Mais testes, contudo, ainda são necessários para que essa relação seja melhor estabelecida.
Resumo da pesquisa
1 – Para testar influência do sistema imune, cientistas inativaram proteína imunológica de cobaias fêmeas |
2 – Elas foram acasaladas com machos com proteínas ativas |
3 – Fêmeas grávidas foram infectadas com o vírus zika |
4 – Parte dos fetos tinha a substância ativa; a outra parte não |
5 – Todos os fetos com a substância ativa foram abortados |
6 – Em testes na placenta humana, pesquisadores também observaram alterações inconsistentes com gestação saudável |
Testes na placenta humana
Cientistas, no entanto, ainda queriam investigar qual o efeito da proteína do sistema imune na gestação humana.
Assim, em parceria com a Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos, cientistas utilizaram tecidos da placenta e a expuseram ao Interferon.
O tecido apresentou pequenos nós que não são consistentes com uma gravidez saudável. O próximo passo será reproduzir o teste, em cobaias, em vários estágios da gestação para ver como o Inferferon age.
A importância dos resultados
O estudo sugere, assim, que o interferon provavelmente acaba enviando sinais para o sistema imune, que enxerga também o feto que está se formando como invasor — e não somente o vírus.
Os resultados são consistentes, sugere a pesquisa, com outros estudos que também demonstraram que o Interferon, normalmente não presente na gravidez, está associado com gestações de alto risco.
Um outro ponto importante, no entanto, é que o Interferon sozinho não poderia explicar totalmente as anomalias resultantes do Zika, já que a proteína também é ativada em outros processos virais.
Por esse motivo, pesquisadores também planejam estudar se o mesmo mecanismo também está presente em outras infecções.(Bem Estar)