Os caminhos divididos do centro
O centro político do Brasil está dividido. Lembra, guardadas as devidas proporções, a situação de 2001, quanto havia cinco candidatos a candidatos presidenciais para representar o centro político e o governo: quatro do PSDB (José Serra, Paulo Renato Souza, Pedro Malan e Tasso Jereissati) e uma do PFL (Roseana Sarney).
Serra, no ápice de sua energia política, e tal qual um serial killer, eliminou um a um seus concorrentes. Terminou sendo o candidato do centro. Paradoxalmente, fez uma campanha distante do líder FHC, já que atuava em oposição aberta a Malan, então ministro da Fazenda.
Malan teria sido, de longe, o melhor candidato, mesmo para perder. Defenderia o legado de FHC, que demorou anos para ser devidamente reconhecido. Serra fez uma campanha “nem barro nem tijolo”, ou seja, nem governo nem oposição. Perdeu e enfraqueceu o PSDB, que até hoje não se recuperou.
Em 1989, o centro se dividiu em diversas candidaturas: Aureliano Chaves (PFL), Ulysses Guimarães (PMDB), Mário Covas (PSDB) e, mais à direita, Afif Domingos (PL) e Fernando Collor (PRN). Após o primeiro turno, sobraram Collor e Lula (PT). Collor era visto com imensa desconfiança pelo establishment político, porém, a desconfiança era bem maior em relação a Lula.
Venceu o candidato “menos pior”, que, apesar de sua larga experiência política, nunca se mostrou capacitado para construir uma base estável e conter os conflitos familiares. Terminou “renunciando” quando já estava “impeached”. Assim, ganhou mas não levou.
Hoje, quando estamos nos recuperando da tragédia fiscal e econômica deixada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a divisão do centro não é boa. Ainda mais porque Lula se afasta do centro que o viabilizou como presidente em duas eleições e deu a base do sucesso de suas gestões.
O centro agora não está preparado nem organizado para enfrentar as eleições presidenciais de 2018. Como já dito, está dividido. Assim como o governo. O PSDB caminha em rota própria e a base governista busca seu caminho. Em consequência, o “centrão” do Congresso não confia no PSDB e sonha ter o presidente Michel Temer (PMDB) como candidato. Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), se coloca como o “safe pair of hands” de que o país precisa.
O pior dos mundos é ter o centro desunido com os extremos favorecidos, o que aconteceu nas últimas eleições municipais do Rio de Janeiro. Felizmente, o deputado Jair Bolsonaro (PSC), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Lula, todos presidenciáveis, tendem a tropeçar nos próprios problemas. Resta saber se algo novo ainda pode acontecer. Como de costume, o acaso acaba aparecendo para desmoralizar os prognósticos. (Blog do Noblat)