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Vera Cruz uma síntese real e fria

Refletir sobre o assunto ocorrido na última semana no município de Vera Cruz encontramos três situações em que refletem a verdadeira história do povo sofrido que luta por dias melhores, foram dois desabafos um redigido e outro em áudio que sintetizam tudo para todos sem a mínima exceção, o terceiro é um ato de solidariedade de representantes de várias camadas sociais deste município.

Para encontrar os verdadeiros culpados não é preciso ir muito longe é simples ver e ouvir o que dizem os “responsáveis” pela regulação, pela operação, por quem deveria proibir este transporte de passageiros tão ineficiente denunciado diversas vezes a todos órgãos que se dizem competentes, reguladores e fiscalizadores, fica uma pregunta para todos “Qual o critério usado para a liberação da travessia Salvador / Mar Grande?”,  pois ha denúncias sobre várias outras embarcações e o despreparo dos tripulantes das mesmas.

Outra pergunta que não quer calar a falta de investimento na saúde,educação e transporte, sobre tudo na saúde de alta complexidade, “As duas crianças teriam que sair de suas casas as 05:00 horas da manhã para pegar uma lancha e ir a uma consulta com um médico pediatra?”, não justifica tamanha falta de respeito.

Fica essa grande interrogação que tão somente poderá ser respondida pela AGERBA,ASTRAMAB, (CL), Capitania dos Portos e por fim autoridades municipais de Vera Cruz e Itaparica.

Relato de um Professor
“Quando eu era criança, ouvia de meus professores que nós, estudantes, se quiséssemos algo melhor na vida, deveríamos sair daqui (Ilha de Itaparica) e ir para Salvador. Muitos dos meus familiares já haviam feito esse translado em busca de oportunidades que por aqui inexistiam. Para mim, ouvir aquilo era como uma agressão, uma violência. Como assim, sair forçosamente do seio de minha família, da companhia de meus amigos, de minha história, do meu nicho, como se a única alternativa de vida para nós fosse “sair do nosso lugar”???
Depois de alguns anos tentando permanecer e me realizar por aqui, percebi que os meus professores estavam certos. O que, por aqui, dava-me felicidade de verdade, infelizmente, não me possibilitaria, minimamente, alcançar outros objetivos que me foram surgindo. Vi meu pai morrer em casa, sem que tivéssemos qualquer condições de lhe assistir, além do carinho, afeto e companhia: tudo por aqui parecia maior e mais difícil. Tínhamos mesmo que sair.
Saí então. Morei em Salvador entre os anos 2000 e 2008. Pelejei, estudei, encontrei parentes, amigos, colegas, professores, pessoas que me ajudaram, que me mostraram outros mundos até então desconhecidos. Encontrei sobretudo livros e, mais do que estes, leituras. Leituras que me trouxeram à condição humana que tenho hoje. Encontrei muita coisa boa do outro lado da Baía de Todos os Santos, exceto a felicidade, a sensação de pertencimento, a segurança e o conforto de estar em casa. Doía muito passar pela Avenida Contorno, olhar para o outro lado, sentir-me tão perto e tão distante dos meus…
Tornei-me professor. Voltei para casa, algo que soou como um reencontro, a conquista do direito e da condição de viver em sua própria casa. Dá para entender isso???
Hoje, a dor do desterro não me pertence mais. Eu a venci. Estou em casa. Sinto uma felicidade danada em passar na fonte do quintal, no campo do casqueiro, no chico leite, nos bujis, no bom jardim, no estaleiro de seu Fefedo, no Porto de cima, etc. Recentemente, vindo do trabalho à noite, era noite de lua cheia, ouvi as vozes dos pescadores que vinham do mar. Um oceano de lembranças me fizeram chorar e sorrir. Ali estava a certeza do reencontro comigo mesmo.
Agora, sinto outra dor. Paradoxalmente, a dor de repetir com os meus alunos o que os meus professores me disseram: “vocês têm que sair daqui, se quiserem algo “melhor”… Por aqui, ainda não se poder estudar, fazer um simples exame de vista, levar um filho a uma consulta pediátrica, ir ao cinema, teatro, qualquer coisa para além dos bares e dos paredões. Por aqui, não se pode ter trabalho decente, sem que você precise humilhar-se, submeter-se ao mundo dos favores políticos. Parece que ainda vivemos naquela “Ilha”, na praia tal ou qual, lugar para passar, curtir, extravasar, mas nunca para viver, crescer, ser…
Para mim, a tragédia com a lancha cavalo marinho I, na última Quinta Feira, foi, mais uma vez, a demonstração do quanto continuamos dependentes de Salvador, da metrópole, como a quinhentos anos atrás. Continuamos colonizados, física e mentalmente. Se nossa única possibilidade continuar sendo ir embora, o que será desta terra, de todas as histórias e pessoas que a conduziram até aqui? Realmente, ver alguém morrer numa travessia, porque foi fazer um exame de vista em Salvador ou uma simples ultrassonografia diz muito do nosso estado de precariedade, muito mais grave e aviltante do que a condição deplorável do sistema de transporte marítimo, sejam “as lanchinhas de Mar Grande”, seja o ferry boat.
Espero que utilizemos esse triste episódio da tragédia marítima de Quinta Feira, não para repensar nossas condições de acesso “à metrópole”, mas, sobretudo, para nos repensar internamente; buscar um crescimento de dentro para fora. Para além das belezas naturais que já temos e das obras físicas que poderemos ter no futuro, precisamos de uma cidade para nascer e crescer, na qual tenhamos condições de viver, sonhar, ficar e sair só se e quando quiser…”
Porfessor Heder Souza

Áudio de Carol Machado

 

Sensibilidade do Povo
Diante da tragédia que se abateu em Mar Grande, nesta quinta-feira 24/08 que deixou todos nós e membros dessa comunidade, tristes e abatidos, foi realizado um ato em apoio e solidariedade ás famílias das vítimas que aconteceu neste sábado dia 26/8 às 13:00 na Praça de Mar Grande, onde foram prestadas homenagens.

Visão Cidade

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