Alba acolhe 1º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia
Cerca de 600 índios, originários de 19 povos de todo Estado, se reuniram ontem, no gramado em frente à rampa da Assembleia Legislativa onde, durante três dias, realizarão o 1º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia. Segundo o presidente da Alba, deputado Angelo Coronel, o pedido para a realização do acampamento foi feito pelas lideranças indígenas com a intermediação do deputado Marcelino Galo. “O Legislativo baiano está a disposição dos povos indígenas reafirmando que aqui é a casa do povo. Espero que as reivindicações para se fazer o acampamento tenham sido atendidas”, afirmou o presidente, contando que o acampamento conta com água, eletricidade e uma equipe de saúde cedidos pela Casa.
Antes da reunião no Auditório Jornalista Jorge Calmon, os manifestantes realizaram danças ritualistas no gramado onde está o acampamento durante cerca de uma hora. Depois, Já no auditório, continuaram a cantar e tocar suas maracas até o início do debate. A cacique Maria Kiriri foi a primeira a falar e afirmou que veio do Oeste do Estado com outros 40 indígenas e que tem certeza que dessa vez não voltará para sua aldeia decepcionada. “Estamos lutando há dois anos e não vamos voltar para o nosso povo sem uma resposta do governo”, afirmou a líder.
O deputado Zé Neto, líder do governo, disse que uma das questões levantadas pelo movimento, além da questão fundiária, é a regulamentação da profissão de professor indígena. “Esperamos resolver essa questão ainda essa semana. Vamos conversar com a oposição para buscar soluções para os povos indígenas da Bahia que estão nesta Casa, de forma legítima, buscando os seus direitos”, afirmou o petista.
O comunista Fabrício Falcão afirmou que seu partido, o PC do B, está a disposição para abraçar qualquer luta que for convocado. Já o deputado Bira Corôa (PT) salientou que o Governo do Estado está mesmo encontrando dificuldades para implantar melhorias na qualidade de vida dos povos indígenas que já estão previstas. “A cultura indígena não é transmitida pela Academia. É algo passado através dos usos e fazeres”, explicou o deputado.
O ex-deputado Yulo Oiticica, militante dos direitos humanos, ressaltou que o acampamento é o primeiro recado que os povos indígenas estão dando às autoridades baianas. “Não podemos continuar assistindo a criminalização das lideranças para atender os interesses do capital”, disse o deputado, salientando que a justiça tem sido rápida na reintegração de posse dos latifúndios e muita lenta na demarcação definitiva das terras indígenas.
O cacique Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como Babau, que já foi preso pela Polícia Federal sob acusação de porte ilegal de arma e solto em seguida por falta de provas, saudou as autoridades presentes como “aliados” e disse que falaria em nome de todos os caciques da Bahia. Ele afirmou que as lideranças indígenas estão convivendo com um dia a dia de violência extrema. “Todos que estão aqui presentes já sofreram algum tipo de violência”, contou.
Babau contou que, pela primeira vez, os povos indígenas estão agindo em parceria o que faz com que o movimento tenha força. “Povos maiores, mais fortes conseguem cobrar do governo suas demandas com mais facilidade”, disse. O cacique contou que além da violência fundiária, os povos indígenas vêm sofrendo com a desnutrição das crianças, alcoolismo e uso de drogas. “Estes problemas diminuíram em todas as aldeias onde políticas públicas foram implantadas”, completou