Igualdade de gênero para idade de aposentaria é certa, mas gera debate

O projeto de reforma da previdência estipula a mesma idade mínima para a aposentadoria de homens e mulheres. A proposta de igualdade está correta, embora provoque discussões. As justificativas contrárias vêm inclusive de profissionais que eu admiro. Mas há um perigo nessa linha de argumentação que acaba por confirmar o papel tradicional das mulheres.

As estatísticas do IBGE mostram que elas cumprem mais tarefas domésticas que eles, lembra o grupo contrário à proposta. Conheço a realidade sem precisar das pesquisas. Passei por essa experiência. Mas, por força desse desequilíbrio, indenizar as mulheres com uma regra diferenciada de aposentadoria será a confirmação de que elas têm que cuidar das tarefas de casa.

As obrigações domésticas precisam ser divididas. Esse é o problema a ser combatido.

Os argumentos nessa discussão reforçam a divisão dos papéis sociais, algo que eu luto contra desde a adolescência. Outra justifica para a idade mínima mais baixa é que a mulher engravida e amamenta. E as que optam por não engravidar, terão uma regra diferente? Abre-se uma confusão enorme. E a mãe que adotou, terá o benefício? As questões se acumulam. Há os casais homoafetivos que se tornam pais e mães. O argumento vale para eles ou só para elas?

As regras diferenciadas provocam mais problemas. Criar uma idade mínima de aposentadoria para as mulheres é contra tudo o que eu acredito como feminista e também como jornalista de economia. A profissão me permite ver que a previdência está no caminho de um colapso e precisa de uma reforma. E ela deve revisar tudo. Quanto menos desigual for o sistema previdenciário, melhor ele será.  (Blog da Miriam Leitão)