Projeto monitora qualidade da água de rios
A Fundação SOS Mata Atlântica está em fase de coleta de amostras em alguns rios da Bahia para analisar a qualidade da água nos cursos hídricos dos grandes centros urbanos, tanto na capital quanto nas cidades que fazem parte da Grande Salvador.
Com o apoio de voluntários, técnicos da fundação estão fazendo a análise da água em dez rios escolhidos pela sociedade civil, no início do mês passado, quando a instituição promoveu audiências em Salvador para divulgador o projeto Observando Rios.
Nesta fase, foram selecionados em Salvador os rios Lucaia, Jaguaripe, Camarajipe, Pituaçu, das Pedras e Trobogy. Na região metropolitana, os rios Catu (Alagoinhas), Ipitanga (Lauro de Freitas), Itaboratã (Simões Filho) e Pojuca (Mata de São João).
Na manhã desta quarta-feira, 9, o grupo fez a coleta no rio Trobogy, que corta a rua de mesmo nome, em Piatã, até desembocar no mar da praia de Jaguaribe. O que se viu no local foi um curso d’água canalizado, assoreado, sem vegetação às margens (matas ciliares) e água de coloração esverdeada.
Morador local, o síndico do condomínio Vila das Palmeiras, o autônomo Jorge Dantas, 58 anos, lamenta o estado atual do curso hídrico, segundo ele, agravado pelo desmatamento fomentado por empreendimentos de expansão da cidade.
“A comunidade sofreu um enorme prejuízo com o desmatamento. Logo de início, sentimos a temperatura esquentar”, revelou. “Em seguida, iniciou-se uma infestação de muriçocas, já que a água do rio não tem mais força para correr. Agora, fica praticamente empoçada”, completou.
Um dos voluntários locais da fundação, o administrador Gustavo Guimarães, que mora em Itapuã, calcula que, no intervalo de um ano, o local perdeu parte da biodiversidade. “Aqui, havia jacaré, vários peixes e aves, que foram afetados pela expansão urbana sem responsabilidade”, lamentou.
Banco de dados
Responsável pelo projeto Observando Rios, o biólogo César Pegoraro informa que, após a fase de coletas mensais, os voluntários abastecerão o banco de dados da fundação, pela internet, com notas que classificam os rios analisados entre “péssimo, ruim, regular, bom e ótimo”.
Segundo calcula o biólogo, cerca de 70 representantes de grupos envolvidos em preservação ambiental participaram das oficinas promovidas pela fundação em Salvador. Entre eles, estudantes, servidores públicos, profissionais da área ambiental e ativistas.
Pegoraro explica que, antes de fazer coletar nos rios, a equipe observa o meio ambiente que cerca o corpo hídrico. Depois, analisa visualmente o grau de turbidez da água, que é submetida a reagentes físico-químicos para medir os níveis de fosfato, nitrato e oxigênio, por exemplo.
“Cada rio tem uma história a contar. Por meio da análise, temos condições de identificar o que levou o corpo hídrico a tal estado”, explica. “É possível saber informações como falta de saneamento básico, qualidade de vida, além de medir os níveis de educação e cultura de uma comunidade”, diz.
De acordo com o biólogo, o trabalho de análise da água permitirá que os poderes públicos possam pensar sobre estratégias de conservação. “Esse é o início de um processo que, futuramente, pode ajudar nas tomadas de decisões na formulação das políticas públicas”, acredita o pesquisador.(A Tarde)