Planetas “bebês” trazem pistas sobre formação do Sistema Solar

Duas equipes internacionais de pesquisadores descobriram dois planetas “recém-nascidos” orbitando estrelas jovens. De acordo com dois estudos, ambos publicados nesta segunda-feira (20) na revista especializada Nature, os planetas com poucos milhões de anos podem trazer pistas sobre a formação dos astros e do Sistema Solar.
Os corpos são considerados também planetas gigantes e demoram cerca de cinco dias para completar uma órbita em torno de suas estrelas. Eles estão entre os planetas mais novos já descobertos. De acordo com o primeiro estudo, liderado por Travis David, pesquisador do instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, na sigla em inglês), a pesquisa ainda poderá auxiliar a compreender como planetas gigantes seguem órbitas tão próximas de suas estrelas.
K2-33b – Para chegar aos resultados, a equipe do primeiro estudo utilizou dados de medições realizadas na Terra, além de informações colhidas pelo telescópio Kepler. Assim, os especialistas foram capazes de identificar K2-33b, um exoplaneta (fora do Sistema Solar) que está a 470 anos-luz da terra (cada ano-luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros) da Terra, na constelação de Escorpião.
Os pesquisadores acreditam que o planeta, com tamanho aproximado ao de Netuno, tem apenas 5 a 10 milhões de anos – isso o classifica como um “recém nascido” na comparação com a Terra, com 4,5 bilhões de anos (e considerada “adolescente” em termos astronômicos). “É extremamente raro encontrarmos um planeta neste estágio. Isso nos dá uma oportunidade única para tentarmos compreender como todos os planetas se formam e se desenvolvem, incluindo a Terra. É importante sabermos se o planeta se formou na sua atual localização, ou mais longe de sua estrela, se mudando para perto dela posteriormente”, disse o cientista Sasha Hinkley, da Universidade de Exeter, coautor do estudo.
De acordo com os pesquisadores, o planeta deve ter se formado no local em que está agora, ou se originou mais longe de sua estrela e foi atraído pela força gravitacional do disco de gás e poeira que “criou” o sistema planetário. A terceira possibilidade – refutada pelos pesquisadores – é o processo de migração. Ele ocorre quando a órbita do planeta é influenciada por outros corpos da galáxia, sendo “carregado” para perto da estrela-mãe. O processo faz com que, inicialmente, a órbita do planeta se torne alongada, se transformando ao longo dos anos em um traçado circular. Segundo os pesquisadores, a transformação demora centenas de milhões de anos para acontecer, e isso é evidência suficiente para garantir que K2-33b não passou por esse processo.
Júpiter quente – Mas o segundo estudo, no entanto, sugere que esse processo de migração pode ter acontecido em 2 milhões de anos com um outro exoplaneta. O corpo descoberto, considerado um “Júpiter quente” (planetas com tamanho similar ao de Júpiter mas que, ao contrário do planeta do nosso Sistema Solar, estão bastante próximos de sua estrela-mãe), pode ser uma das primeiras evidências de um movimento de migração por meio da interação entre as órbitas dos planetas.
Mesmo que ainda exista uma grande discussão entre astrônomos sobre as reais evidências desse processo, os pesquisadores liderados por Jean Donati, da Universidade de Toulouse, na França, acreditam que a órbita quase circular do “Júpiter quente” em torno de uma estrela de aproximadamente dois milhões de anos, é uma evidência que pode indicar, pela primeira vez, a interação entre órbitas de planetas. “Nosso resultado demonstra que um Júpiter quente pode migrar para o interior do sistema planetário em menos de dois milhões de anos, provavelmente como resultado da interação entre as órbitas planetárias”, escreveram os pesquisadores no estudo.
As próximas análises dos estudos poderão trazer as informações necessárias para compreender como os sistemas planetários se formam – incluindo o nosso – e como esses planetas gigantes chegam tão próximos de suas estrelas. “Este é um desenvolvimento crucial, pois nos dará oportunidade de descobrir mais profundamente o ciclo de vida dos sistemas planetários. Da mesma forma que o desenvolvimento de uma pessoa é mais facilmente compreendido quando se estuda um bebê e se acompanha a infância e o início da vida adulta, nossa compreensão dos planetas só poderá se desenvolver se os estudarmos no início de suas existências”, afirmou Hinkley.
(Veja)