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Por que as empresas estão falando em colocar um preço no CO2

Mais de 200 empresas em vários países do mundo, incluindo o Brasil, aderiram a uma plataforma de medidas de sustentabilidade ambiental que, num primeiro momento, parece contraditória: elas estão defendendo que os governos adotem a precificação do carbono. Mas essa iniciativa não tem nada de ingênua. Ela se chamaWe Mean Business (um trocadilho em inglês que remete às ideias de “falar sério” e “fazer negócios”) e se propõe não só a fazer a transição para uma economia de baixo carbono como também garantir sustentabilidade econômica para as empresas. No Brasil, a iniciativa é coordenada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Na última semana, a Natura aderiu ao programa.
A ideia de colocar um preço no CO2 já existe há algum tempo. A lógica é simples. A fumaça que sai das chaminés das fábricas é hoje considerada uma “externalidade”, uma espécie de efeito coleteral da produção. Só que esse efeito coletaral causa danos ao meio ambiente, à saúde, que são arcados pela sociedade, não pela empresa que está lucrando. Se você colocar um preço nessa externalidade, as empresas responsáveis pagam pela fumaça, gerando recursos que podem ser investidos na transição para uma sociedade menos poluente.
Essa ideia costumava enfrentar resistência no setor empresarial no passado, mas isso está mudando. Por exemplo, o Banco Mundial passou a apoiar iniciativas de precificação de carbono. A proximidade das negociações do clima na Conferência de Paris, no final do ano, e a certeza de que não será possível resolver o aquecimento global sem migrar para uma economia de baixo carbono fez com que mais empresas se engajassem. Esse é o caso da Natura. Ao entrar para a coalizão, a empresa se compromete em zerar suas emissões de gases de efeito estufas, em toda a cadeia produtiva, até 2050. “Nós sabemos que não dá para zerar todas as emissões, porque não somos uma empresa de serviços. Mas nos comprometemos a zerar o máximo de emissões possíveis e compensar as emissões que não puderem ser evitadas”, diz Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura.
O CO2 pode ser precificado de duas formas. Podemos punir as empresas que poluem muito ou incentivar as que não poluem. O esquema da Columbia Britânica, uma das províncias do Canadá, é um exemplo das que pune. Ele coloca o preço no carbono por meio de um imposto.  O governo cria uma taxa de carbono em cima da emissão de CO2 (hoje, a taxa está em 7 centavos de dólar canadense por litro de gasolina). Esse imposto foi criado como “receita neutra”: a lei diz que a taxa serve apenas para punir as empresas poluentes, não para encher os cofres do governo. Assim, o governo é obrigado a devolver o dinheiro cortando impostos em outros serviços. Isso fez com que as emissões da Columbia Britância caíssem 16% e que os cidadãos da província se tornassem os que menos pagam imposto em todo o Canadá. 
Já o da União Europeia é um mercado de carbono, um mecanismo que tenta incentivar as que não poluem. O preço de carbono é colocado por meio de permissões para emitir. Todas as empresas recebem as permissões. As que poluem muito podem comprar das que não emitem. Assim, o mecanismo beneficia as indústrias que são mais eficientes e limpas, e o mercado faz o resto, incentivando inovação tecnológica. A UE diz que esse mecanismo já reduziu em 3% suas emissões totais.
O problema é que, por enquanto, todas essas iniciativas estão isoladas e não conversam umas com as outras. Isso cria certa insegurança jurídica para as empresas. Elas sabem que, no futuro, terão que lidar com um cenário em que o carbono terá um custo – seja por meio de taxa, seja no mercado. Mas como se planejar sem ter uma ideia de quanto esse CO2 valerá?
“A precificação se tornou uma bandeira do setor empresarial pela necessidade de um mercado mais previsível. Hoje, o México cobra US$ 1 na tonelada de carbono, e a Suíça, US$ 168. Ainda é muito variável”, diz Marina Grossi, do CEBDS. Em outras palavras, as empresas estão pedindo uma formalização do preço de carbono para saberem como e onde investir no futuro.
Marina usa como exemplo uma empresa que queira criar uma nova planta industrial. Para saber se essa planta é viável econômicamente, ela precisa colocar uma série de variáveis em seus estudos. Por exemplo, qual será a demanda por determinado produto, quais as taxas e impostos, a oferta e demanda, os concorrentes. “A empresa que não considerar que o carbono poderá ter um preço no futuro corre sério risco de falir. As mudanças climáticas atingiram outro patamar, e estamos caminhando para um mundo de restrição de carbono”. Em outras palavras, se as empresas não se preocuparem com o preço do carbono, estão fazendo um planejamento ruim e colocando em risco não só o meio ambiente, mas também sua capacidade para continuar lucrativa.
(Época)

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