Contas secretas na Suíça prejudicam mais os países pobres
Na semana em que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, se viu encurralado pela revelação de contas secretas na Suíça, duas organizações mostraram que o impacto desse tipo de prática vai muito além da corrupção.
Os países mais pobres são os mais prejudicados por contas secretas na Suíça, diz o relatório do Financial Transparency Coalition com o Christian Aid publicado nesta semana.
A conclusão foi feita com base nos detalhes de 100 mil contas do HSBC suíço, vazados em março para um consórcio internacional de jornalistas.
Os países mais ricos tem muito mais dinheiro aplicado lá, mas os recursos de países em desenvolvimento chamam mais atenção em proporção do PIB.
“Porque os totais não são tão grandes, pouca atenção foi dada para o dinheiro de países em desenvolvimento, mas proporcionalmente o Senegal tem três vezes mais no HSBC suíço do que a França e dez vezes mais do que a Alemanha”, diz Joseph Stead, assessor econômico sênior na Christian Aid.
No topo da lista dos países com mais recursos secretos em relação ao total de sua economia aparecem outros paraísos fiscais, já que é praxe movimentar recursos por vários deles antes de chegar no destino final.
Havia três vezes mais dinheiro nas contas das Ilhas Virgens Britânicas no HSBC da Suíça do que o país inteiro produz em um ano.
Depois aparecem países em desenvolvimento como Líberia (14,76% do PIB), Líbano (10,82%), Uruguai (5,03%) e Venezuela (3,38%). E isto é só em um banco de um país.
O Brasil é o 82º no ranking, entre Algéria e Bolívia, com o equivalente a 0,31% do seu PIB aplicado secretamente no HSBC suíço.
Veja no mapa – quanto maior a bolha do país, maior é a proporção do PIB encontrada nas contas secretas do HSBC:
Daqui cerca de uma semana, os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 devem se encontrar para finalizar novas regras que ataquem o problema da evasão de divisas em nível transnacional.
De acordo com os autores do estudo, o problema é que deve ser celebrado um acordo baseado em reciprocidade: só recebe informação quem também compartilhar.
O que parece justo na teoria vai, na prática, prejudicar os mais pobres – que muitas vezes não tem os recursos necessários para recolher e organizar a informação necessária, mas sofrem mais com a evasão de recursos.
“95% da atividade mundial offshore é em países de renda alta e só 0,05% é em países de renda baixa. O problema claramente é o dinheiro em bancos de países ricos, então é hipócrita que eles se recusem a considerar um período temporário de não-reciprocidade quando os países em desenvolvimento poderiam simplesmente receber informações sobre os recursos de seus próprios cidadãos fora do país. A OCDE está essencialmente pedindo para os países de renda baixa resolverem um problema que não existe”, diz Stead.
(Exame)