Estudos mostram eficácia de medicamento que previne aids
Um antirretroviral testado como tratamento preventivo em homossexuais expostos ao risco de infecção pelo HIV/aids se mostrou eficaz e deve fazer parte das ferramentas básicas de prevenção na população masculina de risco – segundo estudo publicado nesta quinta-feira (10/9) pela revista britânica The Lancet.
“A redução impressionante dos casos de HIV entre as pessoas que tomam uma profilaxia pré-exposição (ou PrEP), sem aumento notável nas outras infecções sexualmente transmissíveis, é confortante do ponto de vista clínico e comunitário, assim como para todos os atores da saúde pública”, ressaltaram os autores do estudo. Eles se declaram “muito favoráveis” à integração deste tratamento às “ferramentas atuais de prevenção” colocadas à disposição dos homossexuais expostos ao risco de infecção.
Realizado no Reino Unido desde novembro de 2012, o estudo PROUD acompanhou 544 homossexuais não infectados mas que tinham tido uma ou mais relações desprotegidas ao longo dos 90 dias anteriores. Metade deles recebeu imediatamente uma dose cotidiana de Truvada, um antirretroviral que combina tenofovir e emtricitabina, do laboratório norte-americano Gilead Sciences, enquanto os outros receberam o tratamento de maneira diferente, um ano depois.
Apenas três infecções foram observadas no primeiro grupo, contra 20 no segundo grupo, uma redução relativa do risco da ordem de 86%, segundo a equipe de pesquisadores dirigida pela epidemiologista Sheena McCormack. Mas desde outubro de 2014, quase um ano antes da publicação dos resultados definitivos, os responsáveis pelo estudo decidiram dar o Truvada a todos os participantes em razão dos resultados preliminares muito positivos.
Levando em conta esta decisão, os autores de um estudo francês semelhante, intitulado Ypergay e comparando a eficácia do Truvada ao placebo, também decidiram permitir que todos os participantes se beneficiassem do Truvada.
Apesar da experiência bem sucedida em vários testes clínicos, o tratamento preventivo contra a aids continua a ser muito pouco prescrito no mundo, especialmente por causa de seu alto custo (cerca de 10.000 euros ao ano) e efeitos colaterais como dores de cabeça, náuseas e perda de peso.
“Os serviços nacionais de saúde têm restrições financeiras, mas não podem ignorar os resultados do estudo PROUD e Ypergay”, ressaltaram os autores do estudo britânico.
Em um comentário anexo, os médicos Kenneth Mayer e Chris Beyrer, dois especialistas norte-americanos em saúde pública, acreditam que “a era da especulação já passou”. “É preciso desenvolver serviços de prevenção a aids de escala internacional oferecendo sistematicamente tratamentos PrEP aos que podem se beneficiar”, afirmaram.
(uai)