Composto modificado amplia ação antitumoral em melanoma
Pesquisa da biomédica Fernanda Faião Flores aponta que o composto DM-1 induz a destruição de células de melanoma (câncer de pele) e leva à eliminação dos tumores em animais tratados. O composto DM-1 apresenta uma mudança em sua estrutura que amplia os efeitos da curcumina, pigmento de reconhecida ação antitumoral. Os resultados do estudo, que demonstraram o potencial do composto no tratamento do melanoma, são descritos em tese de doutorado apresentada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e orientada por Durvanei Augusto Maria, pesquisador do Instituto Butantan.
O DM-1 é um agente antitumoral cuja estrutura química é análoga à da curcumina, pigmento extraído da planta Curcuma longa, conhecida popularmente como cúrcuma ou açafrão-da-terra. “A curcumina possui uma série de características benéficas, como ação antitumoral, antiinflamatória, antiproliferativa, antimetastática e analgésica. No entanto, ela possui baixa biodisponibilidade, ou seja, pouca capacidade de absorção pelo organismo”, conta Fernanda. “O DM-1 apresenta uma modificação estrutural realizada em laboratório pelo professor José Agustín Quincoces Suarez, da Universidade Anhanguera (Unian) de São Paulo, que aumenta a biodisponibilidade e, em consequência, o seu potencial de absorção e ação”.
O agente antitumoral foi testado inicialmente in vitro, em culturas de células de melanoma. “Esse experimento demonstrou que o DM-1, utilizado em baixas concentrações, induz as células tumorais à morte por apoptose”, aponta a biomédica. A apoptose é um processo ordenado de morte celular, que requer consumo de energia. “O DM-1 também apresentou efeito seletivo, ou seja, as células normais apresentaram mínimos efeitos colaterais”. Os experimentos também foram realizados no Departamento de Patología y Terapéutica Experimental da Universitat de Barcelona (Espanha), sob a supervisão do professor Ricardo Pérez Tomás.
A pesquisa teve sequência com análises in vivo, realizadas em camundongos, para verificar o potencial de morte das células tumorais e do tratamento combinatório com a dacarbazina, um antitumoral já utilizado clinicamente. “O quimioterápico Dacarbazina é utilizado em protocolos combinatórios para o tratamento do melanoma, mas possui muitos efeitos colaterais e uma taxa de resposta ainda insatisfatória”, aponta Fernanda. “O uso combinado com o composto DM-1 induziu a redução da toxicidade causada pela dacarbazina, principalmente no fígado, rins e tecido hematopoiético, responsável pela formação de células sanguíneas”.
Sobrevida
A terapia combinada também aumentou a sobrevida dos animais, ao mesmo tempo que levou a uma diminuição da massa e do volume tumoral. “Por meio das técnicas de análise microscópica e de expressão proteica, verificou-se o aparecimento de figuras de apoptose nas células tumorais tratadas”, acrescenta a biomédica.
Fernanda atualmente é pós-doutoranda da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Os resultados dos experimentos in vivo são descritos na tese de doutorado Avaliação da atividade antitumoral do composto DM-1 e da terapia de captura de nêutrons por boro em associação ao quimioterápico dacarbazina no tratamento de melanoma, defendida na FMUSP em 2013. O trabalho foi orientado pelo professor Durvanei Augusto Maria, pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Instituto Butantan, onde foram feitos os testes com animais. A pesquisa recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2014 da área de Medicina I, realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As conclusões do estudo são relatadas em artigo da PLOsONE.
No Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas da FCF, a biomédica irá colaborar com a pesquisa do uso do DM-1 em células de melanoma quimioresistente à inibidores de BRAF e MEK, em colaboração com outros alunos de pós-doutorado, mestrado e iniciação científica, sob orientação da professora Silvya Stuchi Maria-Engler. “Em alguns pacientes, apesar da utilização de novos inibidores tumorais na quimioterapia, há uma reincidência dos tumores em um período de seis a sete meses”, observa. “A ideia é utilizar amostras de tumores extraídas de pacientes em tratamento à esses inibidores para verificar a resposta do agente antitumoral na clínica”. A utilização como fármaco no tratamento do melanoma ainda requer mais alguns anos de pesquisas prévias aos ensaios em seres humanos.
O DM-1 foi desenvolvido pelo grupo do professor José Agustin Pablo Quincoces Suarez, da Unian e patenteado, juntamente com outros compostos, com auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A patente do DM-1 teve origem nas análises in vitro realizadas no Instituto Butantan, primeiramente pelo professor Durvanei Augusto Maria e em estudos que Fernanda participou como aluna de iniciação científica. “Além da patente, essa pesquisa recebeu seis prêmios em congressos nacionais e gerou a publicação de quatro artigos científicos”, diz a biomédica. Os compostos poderão ser disponibilizados para testes nas indústrias por meio de um edital da Fapesp.
(USP )