PMDB ignora Dilma e finge governar só
É verdade que Dilma e o PT pisaram na bola com o PMDB, sempre tratado como primo pobre, sócio minoritário e até secundário do governo. Este tipo de problema se resolve, na vida como na política, discutindo a relação e acertando os ponteiros. O PMDB, com seu programa de televisão que foi ar ao ontem, reagiu combinando infantilidade e grosseria.
Como estamos mesmo no tempo da descortesia, tudo parece natural e até pertinente. Mas que outra palavra, senão a descortesia, aplica-se à situação inusitada, em que ministros de Estado se apresentam falando de suas pastas, do que estão fazendo e vão fazer, sem qualquer referência ao governo que integram? Não sendo brasileiro, quem visse Eliseu Padilha falando dos 270 aeroportos que vai reformar e ampliar, Helder Barbalho de seu programa de expansão da pesca, Vinicius Lage f da política de turismo e outros mais alardeando suas ações de governo, ficaria na dúvida: Dilma Rousseff, presidente do Brasil, é filiada ao PMDB ou deixou de ser presidente e foi sucedida por um peemedebista? Sabe-se lá, no Brasil, tudo acontece no ritmo acelerado do samba, pensaria o estrangeiro desavisado.
Tudo bem que Renan e Eduardo Cunha falassem mais institucionalmente, como presidentes das casas do Congresso. Mas Michel Temer, vice-presidente da República, falando de conquistas dos anos recentes, ajuste fiscal e continuidade dos programas sociais, simplesmente assim, como coisas que estão aí porque o PMDB fez, soou um pouco pueril. Estão emburrados, é compreensível: o PT sozinho não teria conquistas a enumerar sem o concurso do PMDB para governar. Mas fingindo que governa sozinho o PMDB pensa que engana quem?
E para quê tanta ênfase na “liberdade de expressão”, “com muita informação”, só para dizer que o partido discorda de qualquer regulação da mídia? Quem disse ao PMDB que a regulação pressupõe limitação da liberdade?
Realmente estamos feitos. Um pisa no calo e não pede desculpa. O outro emburra e finge estar no poder sozinho. E do outro lado a oposição torcendo pelo fim do mundo.
Por Tereza Cruvinel
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