InternacionaisNotíciasSem categoria

Oriente Médio, o problema de Obama que persiste

No limiar do Ano Novo, um presidente que procura reequilibrar a política externa dos Estados Unidos para a Ásia-Pacífico encontrou a diplomacia americana firmemente atolada nos conflitos do Oriente Médio.
Na verdade, este mosaico de catástrofe e crises deverá deixar Barack Obama ocupado em grande parte dos seus anos finais na Casa Branca.
Para começar, há a luta contínua contra o grupo autodenominado “Estado Islâmico”, movimento que ocupa uma ampla faixa de território na Síria e no Iraque.
Depois, há as guerras civis nesses dois países. Na Síria, vários grupos – inclusive o “Estado Islâmico” – tentam derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad.
E no Iraque, a tensão sempre borbulha na superfície desde que árabes sunitas e curdos tentam coexistir com o governo central xiita em Bagdá.
Este governo – assim como o regime de Assad na Síria – é fortemente apoiado pelo Irã.
Teerã certamente ofereceu equipamento militar, tropas e conselho militar de alto nível para ajudar o desintegrado Exército iraquiano a enfrentar o Estado Islâmico.
Nos últimos dias, um franco-atirador deste grupo teria matado um general iraniano da força Quds – tropas expedicionárias da Guarda Revolucionária Iraniana – durante combates na cidade de Samarra, no centro do Iraque.
Assim, em uma curiosa justaposição, Irã e EUA encontram-se aliados contra o Estado Islâmico, embora ainda seja incerto o que este relacionamento poderá trazer.

Tensões regionais

Washington e Teerã ainda estão divididos quanto à visão que têm do mundo, de Israel em particular -e o Irã ainda é acusado pelos EUA de apoiar o terrorismo.
E, claro, há a questão do programa nuclear do Irã, onde uma resolução diplomática de longa prazo permanece indefinida.
A catástrofe síria causou tensões entre Washington e vários de seus aliados de longa data na região, como Arábia Saudita, muitos dos pequenos Estados do Golfo e a Turquia, ansiosos em apoiar grupos específicos que se opõem ao regime de Assad.
O armamento e financiamento de tais grupos – muitos deles de essência islâmica – têm inevitavelmente causado inquietação em Washington, sempre sensível às fronteiras entre a insurgência e os grupos que podem estar ligados, de uma forma ou de outra, à Al-Qaeda.
A relações da Turquia com Washington também têm sido tensas desde que Ancara – com suas próprias ambições regionais – tem dado mais prioridade à saída do presidente Assad do que à campanha contra o Estado Islâmico.
A atitude da Turquia à potencial fragmentação do Iraque também é complexa devido às antigas dificuldades com a sua própria minoria curda.
Além disso tudo, há ainda o relacionamento cada vez pior entre Israel e os palestinos, com a liderança palestina da Cisjordânia ameaçando levar a disputa ao Conselho de Segurança da ONU numa tentativa de resolução que possa por fim ao conflito.
A volta da violência entre Israel e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, continua como uma possibilidade real.
Uma eleição geral em Israel em 2015 tem o potencial de esquentar o ambiente político doméstico, embora uma mudança do governo possa abrir novas possibilidades diplomáticas.
As relações entre Obama e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, têm sido ruins quase desde o início.
Esta tensão em particular pode ser vista como transitória, pois depende até certo ponto da empatia entre as personalidades envolvidas.
No entanto, ela ocorre num momento de crescente antipatia internacional à expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia – especialmente na Europa.
Há, também, uma mudança geracional mais ampla – mesmo dentro dos EUA, inclusive na comunidade judaica – que sugere que o apoio nos EUA à segurança de Israel pode se tornar mais condicional e dependente das ações de Israel no futuro.

Resultados da Primavera Árabe

E, como se não bastassem problemas para Washington, o Oriente Médio ainda sofre com o resultado das esperanças levantadas – e em grande parte fracassadas – pela chamada Primavera Árabe.
O caos no Iraque e na Síria – o coração do mundo árabe – tem levantado questões fundamentais sobre a sobrevivência das fronteiras e grande parte do sistema estatal que as potências ocidentais coloniais deixaram na região.
Assim, diante dessa série de problemas, poderá Obama começar a fazer a diferença?
Com ou sem razão, toda a política externa do presidente tem sido amplamente criticada por indecisão e falta de qualquer visão estratégica real.
O Congresso está agora firmemente nas mãos dos republicanos e, nesta fase no ciclo de vida da administração Obama, muitas das pessoas mais talentosas e habilidosas estão deixando o governo
Mas isso é apenas parte da história. Nas últimas semanas, Obama tem mostrado uma nova tenacidade em assuntos estrangeiros e uma vontade de usar seus últimos dois anos de mandato para alçar novas direções no exterior.
Houve, por exemplo, a mudança histórica da política dos EUA em relação a Cuba. E se Hollywood, com todos os seus heróis de ação, pareceu murchar sob pressão norte-coreana, o presidente não.
Houve também a renovação do acordo provisório com o Irã sobre seu programa nuclear.

Papel da Rússia

As opiniões são divergentes, mas Obama não fez concessões que poderiam ter levado a um acordo fraco, nem deixou a mesa de negociaçãoes ao acreditar que ainda havia uma oportunidade a ser aproveitada.
A diplomacia com o Irã oferece um dos grandes desafios da política externa para o resto do mandato de Obama na Casa Branca. Mas não é o único.
Obama tem de lidar com as novas políticas assertivas do presidente russo, Vladimir Putin. Isto levanta todos os tipos de questões diplomáticas para além da necessidade de revitalizar a Otan e tranquilizar os aliados europeus.
Poderá Obama, por exemplo, continuar a contar com o apoio da Rússia para manter a pressão sobre Teerã? E qual será o apoio da Rússia a Assad?
E, ainda, há a necessidade de tentar refocar a política externa americana sobre o eixo Ásia-Pacífico.
No entanto, dada a turbulência no Oriente Médio, é lá que a liderança dos EUA pode ser testada ao máximo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *