Crianças e adolescentes também podem ter varizes?
Comum em adultos de meia idade e idosos, aquelas veias dilatadas e tortuosas chamadas varizes também podem rabiscar as pernas de crianças e adolescentes. E, explicam os médicos, não a nada de anormal nisso.
O cirurgião vascular Nelson Wolosker, que atua no Hospital Israelita Albert Einstein, explica que as varizes nada mais são do que uma modificação daquelas veias que já nasceram conosco, “aquelas veias verdes, que nem prestamos atenção”. No entanto, explica ele, algumas pessoas têm fragilidade na parede dessas veias. Com o passar do tempo, podem dilatar e se tornarem tortuosas, que é a definição das varizes. “São veias fracas”, diz.
A razão de as veias se tornarem fracas vem da genética e da hereditariedade. “Quem tem tendência, vai desenvolvendo essas dilatações venosas”, explica Wolosker.
O cirurgião vascular do Hospital das Clínicas de São Paulo, Celso Ricardo Bregalda Neves, explica que se um pai tem varizes, a chance é grande de o filho também ter. Se o pai e a mãe têm, a chance aumenta mais.
No entanto, o sedentarismo e a obesidade podem “acordar” a genética ou a hereditariedade antes do horário. “Praticar exercícios físicos e manter o peso normal é a recomendação”, diz Neves, referindo-se a deixar os genes dormindo mais um tempo.
Para aqueles que estão no início da adolescência e surgem varizes, a razão é a oscilação hormonal, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Pedro Pablo Komlós.
“Quando o menino ou menina entra na puberdade, as varizes podem aparecer”, diz o médico. Komlós explica que, nessa idade, dificilmente as varizes poderiam causar um problema ou complicação. “Nessa idade, quem mais fica incomodado são os pais”, afirma.
Pernas inquietas
Para dar complicações, como os sintomas que muitos adultos e idosos reclamam, as varizes precisam ser “antigas”, como se refere o angiologista e cirurgião vascular da SBACV. Mas essa palavra não se refere à idade biológica da pessoa, mas sim a partir do momento em que a variz surgiu. “Uma menina que teve variz aos 13 anos, depois dos 30 a variz já estará antiga e poderá dar sintomas, por exemplo”
Um desses sintomas é a sensação de perna pesada. “Depois de uma pequena caminhada, parece que a perna está pesando 200 kg”, compara Komlós.
Se não tratada, ela pode evoluir para o sintoma de pernas inquietas. “A impressão que a pessoa tem é de não ter posição para deixar as pernas, é uma intranquilidade. E à noite, ao deitar, essa intranquilidade às vezes fica insuportável”, afirma o vascular.
Negligenciar o tratamento também pode fazer com que as varizes provoquem manchas escuras permanentes na pele. O presidente da SBACV explica que, depois de muito tempo que o sangue permanece depositado nas extremidades da veia, o ferro do sangue acaba por pigmentar a pele e faz com que ela manche. “É a dermatite ocre”, diz ele.
A partir disso, podem aparecer as úlceras varicosas, que são feridas na pele causadas pela má-oxigenação dos tecidos.
Bate coração
Para quem tem varizes e se preocupa se o sangue estará sendo enviado direitinho ao coração, o médico explica que as varizes representam apenas 1% da capacidade de bombeamento do sangue, ou seja, é praticamente insignificante nesse ponto.
Para entender melhor, as veias são responsáveis por devolver o sangue ao coração, para que ele passe nos pulmões, seja oxigenado e enviado novamente aos tecidos. E o ciclo continua. O principal responsável por bombear o sangue de volta para o coração é a panturrilha. Ela funciona como um coração na perna.
“As veias fracas não têm importância porque o sangue não volta, mas sim porque elas fazem com que o sangue fique parado”, afirma o médico do Einstein.
Tratar é fácil
A boa notícia é que o tratamento das varizes é simples. Komlós explica que há vários métodos oferecidos, mas para resolver os vasinhos, o melhor são as injeções esclerosantes, aplicadas em ambulatório.
Para varizes médias, dependendo exatamente do tamanho, podem ser usadas as mesmas injeções. Já se as veias forem mais grossas, o que funciona é a cirurgia estética. “É uma mini-cirurgia na qual são feitos furinhos ao redor das veias e daí se retira as varizes com uma espécie de agulha de crochê. É simples. O paciente pode ir embora do hospital no mesmo dia”, tranquiliza o médico.
Pílula anticoncepcional – Komlós explica que as pílulas anticoncepcionais de antigamente estavam diretamente ligadas ao surgimento das varizes, por causa da altíssima carga hormonal. Mas isso mudou. “O conteúdo hormonal de hoje é quase insignificante, não vejo mais na minha vida profissional a relação dos anticoncepcionais e a formação de varizes”, esclarece.
Salto alto – Salto alto também está liberado. Ele pode até fazer mal para outras coisas, como o sistema músculo-esquelético, mas não causa varizes.
Musculação – os adolescentes estão cada vez mais querendo frequentar academias para tornear o corpo. Mas isso causa varizes? “Não”, explica Komlós, que, inclusive, recomenda exercícios físicos. “A atividade física, embora não evite diretamente o aparecimento das varizes, estimula o desenvolvimento muscular, principalmente da panturrilha, que bombeia o sangue no seu retorno e impede que apareça a insuficiência venosa crônica, que é a dificuldade de bombear o sangue de volta para o coração.”
Trombose – segundo o cirurgião vascular do Hospital das Clínicas, as varizes podem formar um trombo, seja por trauma ou até mesmo sem. “Uma picada, um trauma, até espontaneamente”, diz ele. No entanto, não é aquela trombose venosa profunda, que se torna uma emergência médica e, se não tratada, custaria a vida do paciente. No caso das varizes, pode causar sangramento e, segundo ele, por ser uma veia superficial, raramente poderá causar embolia pulmonar.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, apenas a permanência em pé por longos períodos pode favorecer o surgimento das varizes. Fora isso, nada estimula que elas marquem as pernas.
(IG)