Fumo compromete produtividade do trabalhador?
Pontos de fumaça nas salas e funcionários fumando até mesmo na mesa de trabalho eram elementos comuns no cenário de escritórios há alguns anos. Hoje, com maior rigidez nas leis antitabagistas, que proíbem o consumo de cigarro em locais fechados, os profissionais precisam se deslocar para outros ambientes para fumar.
Por conta disso, alguns especialistas do mercado de trabalho alegam que a produtividade desses colaboradores fica comprometida, gerando gastos para a empresa. Uma pesquisa da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, revelou que cada funcionário fumante custa o equivalente a R$ 12 mil por ano para o empregador, considerando despesas com os problemas de saúde provocados pelo cigarro, número de faltas e tempo gasto com o vício.
“Alguém que fume seis cigarros durante as oito horas de trabalho, consome, com isso, cerca de 90 minutos, quase 20% do tempo de expediente”, afirma o especialista em finanças corporativas Marcelo Maron. Segundo ele, esse é um dos motivos que fazem com que fumantes sejam preteridos (mesmo que não de forma declarada) em processos seletivos.
Para o especialista em recursos humanos Carlos Magno, no entanto, há um exagero na situação. “Alguém que passe muito tempo na internet, fazendo coisas alheias ao trabalho, ‘perde’ o mesmo tempo de um fumante. Só é um desperdício relevante se o profissional fumar três carteiras por dia”.
Magno afirma que os gastos a mais ficam por conta dos planos de saúde que as empresas pagam aos funcionários, com realização de exames e compra de medicamentos, já que fumantes têm maior predisposição a doenças. “Mas, nas seleções de emprego, ninguém pergunta ‘você fuma?’. E nunca vi empresas colocarem ‘candidatos não fumantes’ em suas listas de pré-requisitos. Isso seria discriminação”, diz.
Ações das empresas – Para diminuir o nível de tabagismo em suas equipes, algumas empresas implementaram ações antifumo em seus programas de qualidade de vida, promovendo encontros com médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos e, em alguns casos, custeando remédios para empregados que desejam largar o cigarro.
Há um ano, o Instituto de Medicina e Segurança do Trabalho do Estado do Paraná (Imtep) criou um modelo de programa de auxílio ao tabagista, voltado para grandes empresas, e já alcançou resultados significativos: 20% dos trabalhadores que passaram pelo programa reduziram o tabagismo e 60% largaram o cigarro. “Nossas pesquisas mostram que 80% dos fumantes querem parar de fumar. E quando as empresas nas quais eles trabalham custeiam o tratamento, esses funcionários aproveitam a oportunidade”, diz a coordenadora do programa, Joice Santos.
Após adotar, desde 1992, uma ação similar, a Dow Brasil reduziu de 30% para 3% o número de fumantes em seu quadro de trabalho. Com o Viva Vida, que tem calendário anual, a empresa bateu a média do Ministério de Saúde, que mostra que 14,8% da população fuma. De acordo com o médico Augusto Di Tullio, responsável pelas unidades da Dow na Bahia, é preciso conhecer bem a equipe para alcançar bons resultados: “O primeiro passo é saber o número de fumantes e analisar o grau de aderência ao vício”.
De acordo com os especialistas, empresas que não tenham condições estruturais ou financeiras para investir em ações específicas podem apostar no diálogo como incentivo.(A Tarde)