Você vai ter um infarto?
O cardiologista analisa o resultado de uma ressonância magnética e, sem mesmo saber se o paciente tem altas taxas de colesterol, bebe, fuma ou é hipertenso, diz na lata: “Você vai ter um infarto”. Dentro de alguns anos exames de imagem como a ressonância e a tomografia computadorizada, aqueles capazes de revelar aos olhos as entranhas do coração, permitirão aos médicos que cuidam das nossas artérias estabelecer esse tipo de prognóstico e, quem sabe, evitar o pior.
Eis a idéia de futuro que não sai da cabeça do cardiologista Juliano de Lara Fernandes, da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, que fica no interior paulista. Aos 32 anos ele foi o grande vencedor do Prêmio SAÚDE! realizado por esta revista, na categoria saúde do coração. Na sua pesquisa o especialista comprovou que as imagens da ressonância magnética mostram com exatidão o remodelamento positivo da coronária, o nome científico que se dá para o espessamento das paredes das artérias provocado pelo acúmulo de placas de gordura.
O trabalho de Fernandes também ratifica uma mudança de conceito quando o assunto é ateroma, a outra alcunha da ameaça que pode dificultar e interromper a viagem do sangue. Isso porque até recentemente os especialistas acreditavam que a placa se desenvolvia em direção ao interior do vaso, ou seja, num movimento de fora para dentro. Mas os exames de imagem têm demonstrado justamente o contrário. Na verdade a parede do vaso, cheia de gordura, primeiro cresce no sentido externo. “A ressonância permite visualizar esse momento, que é bem antes de a obstrução completa acontecer”, conta entusiasmado o jovem cientista.
Além disso, os exames de imagem flagram as chamadas placas moles, as responsáveis por sete em cada dez infartos. Elas estão por trás dessa estatística assustadora porque, além de serem gordas, gordas, são mais propensas a se romper, dando origem a um coágulo, o culpado pelo entupimento fatídico. O teste de esforço físico, aquele realizado em cima de uma esteira, e o invasivo cateterismo, no qual se introduz um cateter pela artéria femoral até que ele alcance a coronária, não acusavam a presença desse perigo.
Por causa da dificuldade para acusar as placas moles, é bem provável que muito paciente tenha saído feliz da vida do consultório do médico depois de um teste de esforço ou mesmo de um cateterismo para, algum tempo depois, espantando todos, engrossar a lista dos infartados. E tudo porque a placa mole estava lá, pronta para estourar a qualquer instante.
Estabilizar esse tipo de ateroma foi outro objetivo do trabalho de Fernandes, que analisou 42 artérias de 22 pacientes recém-infartados. Para dar cabo da instabilidade que leva a placa mole a implodir o pesquisador se valeu de estatinas, o medicamento indicado para derrubar as taxas de colesterol. “O remédio parece reduzir o conteúdo de gordura desse tipo de placa”, revela o cardiologista. “Além disso, diminui a atividade de células inflamatórias envolvidas no problema e estimula a produção de tecido fibrótico.”
(Saúde)