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Será apenas mais um protesto, Olodum?

Por Jeremias Silva
Reprodução
O presidente do grupo afro Olodum João Jorge “descobriu” que o carnaval de Salvador é a festa do apartheid. Se a declaração (clique aqui) do dirigente teve a intenção de chocar a sociedade ou de aparecer na mídia durante a folia não se sabe, mas suas críticas tiveram alvo com nome estampado.
A festa que acontece todo ano tem várias distorções, e os grupos empresariais que fazem parte deste contexto da folia buscam sempre aproveitam para garantir uma nova forma de aumentar seus lucros, bem como, a visibilidade das marcas. E nesse quesito, as grandes agremiações saem sempre na frente das demais entidades que ainda vivem o saudosismo de outras épocas.
Não cabe aumentar ou diminuir o tom das críticas feitas por João Jorge, pois em algum momento parecem cultivadas em ressentimentos, e sim assim não fosse, teria razão de maneira integral. Dizer que esse ou aquele artista lucra de maneira astronômica é algo que não condiz com a discussão social da festa. Se Ivete ganha mais que Bell Marques que arrecada mais que Márcio Vítor é uma condição inerente ao desempenho dos cantores e de seu time de produtores, empresários e patrocinadores.
Quanto a participação do Poder Público na organização da festa, o presidente do Olodum tem razão quando cobra responsabilidades de uma configuração que também permita visibilidade para entidades que fizeram a honra e a glória do carnaval para os baianos. A passagem na avenida perante os olhos da população e da mídia poderiam trazer novos horizontes para esses blocos que foram marginalizados ao longo do tempo, mas que ainda trazem o brilho das cores nas vestes de seus integrantes. Gente da gente. Gente da Bahia.
Mas, o que as emissoras gostam é de mostrar artistas que garantam audiência. Os patrocinadores gostam dos artistas que tenham público consumidor. E o povo passou a gostar desse perfil que vende ilusões. O protesto pregado nas letras do canto sublime do Olodum que marcou época no Brasil não mais é absorvido nas mentes daqueles que ainda sofrem aprisionados no gueto por esse mesmo sistema que aprenderam a cultuar como belo por conta do modismo.
Há de se concordar que o próprio afro Olodum diminuiu sua participação no processo de resgate cultural e da auto-estima da cidade, preferindo tentar seguir trajetos semelhantes aos criticados pelo seu diretor, e em não sendo exitoso, não poderia deixar de assumir o seu papel social na nossa cidade que sempre foi a marca pioneira desta entidade que representa a Bahia pelo mundo. O “Deus dos Deus” da música baiana não pode ficar encostado enquanto a sociedade avança em uma aceleração cruel. O Olodum tem quer ser novamente machete principal.

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