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Em meio a polêmicas, Nicarágua começa a construir megacanal

Em clima de apreensão, o governo nicaraguense e um consórcio internacional liderado por uma empresa chinesa lançaram nesta segunda-feira, na Nicarágua, a pedra fundamental do megacanal que promete ser maior que o do Panamá.
O Grande Canal da Nicarágua também deve ligar o oceano Atlântico e o Pacífico, mas estima-se que seja mais longo, largo e profundo que o vizinho panamenho.
Com inauguração prevista para 2020, o canal deve ter 278 quilômetros de extensão (três vezes mais que o Canal do Panamá) e a previsão inicial é de que custe US$ 50 bilhões (R$ 133 bilhões).
Junto ao canal, também devem ser construídos dois portos, um aeroporto, um centro turístico e um parque industrial.
Mas, além de número grandiosos, o projeto está envolto em uma série de polêmicas, enfrentando resistência de grupos ambientalistas, nacionalistas e comunidades locais.
Nos últimos três meses, por exemplo, foram realizados pelo menos 15 protestos contra o canal em várias partes da Nicarágua – sendo muitos deles liderados por populações afetadas pelas obras.
“As três grandes mensagens dos protestos são: primeiro, não vamos vender nossas terras nem aceitar expropriações. Segundo, precisamos defender o lago Cocibolca (pelo qual o canal deve passar). Terceiro, essa obra representa uma concessão da soberania do país”, diz Mónica López, advogada e ativista, que abriu um processo contra o projeto na Justiça por considerar que ele atende apenas a interesses chineses.

Empresa chinesa

O Grande Canal da Nicarágua será construído e operado por 50 anos pela HKND (Hong Kong Nicaragua Canal Development), consórcio internacional que tem à frente o enigmático multimilionário chinês Wang Jing, presidente da Beijing Xinwei Telecom Technology Co.
De acordo com o plano oficial, em um primeiro momento serão erguidas estradas auxiliares e instalações para facilitar a construção do canal.
Telémaco Talavera, porta-voz da Comissão Nacional do Grande Canal Interoceânico, garante que há provisões financeiras suficientes tanto para a obra principal quanto para as auxiliares.
Mas há quem duvide que a HKND possa assegurar os mais de US$ 50 bilhões necessários para o projeto.
Entre eles, Octavio Ortega, coordenador do Conselho Nacional de Defesa da Terra, do Lago da Nicarágua e da Soberania Nacional, organização que tem se oposto ao canal.
Para ele, a HKND começou a construção do canal por uma obra secundária porque não tem recursos para financiar os maiores projetos e estaria desesperada para convencer novos investidores a ajudar na operação.
Também há quem acuse o governo nicaraguense de usar a obra para facilitar as expropriações das regiões que abrigarão portos, vias férreas e complexos turísticos – os “projetos secundários”. Mas autoridades negam tais acusações.

Competição

Para o economista nicaraguense Alejandro Rostrán Coen, que defendeu uma tese na Universidade do Texas sobre a viabilidade de um segundo canal interoceânico na América Central, não será fácil para os nicaraguenses competirem com o canal do Panamá – que acaba de expandir sua capacidade.
Rostrán diz que a extensão maior do canal da Nicarágua e o fato de ele ter sido concebido como uma rota de via única praticamente anulam as vantagens da maior proximidade ao hemisfério norte (e ao mercado norte-americano).
O economista também prevê uma demanda cada vez menor para o uso de barcos de grande calado, que não podem usar o Canal do Panamá – outra suposta vantagem do projeto da HKND.
Já Talavera diz que todo o projeto está sustentado em estudos técnicos sólidos, elaborados por empresas de grande reputação.
Ele admite que há preocupações “legítimas” ligadas ao canal – por exemplo, daqueles que temem perder suas terras.
“Poderíamos ter divulgado mais (informações) sobre os aspectos ambientais, sociais e econômicos (do projeto), mas também é preciso considerar que há quem veja isso (o debate sobre o canal) como uma plataforma política (de oposição ao governo).”
As organizações críticas ao canal projeto também acusam as autoridades de limitarem seu direito de protesto. As autoridades, porém, dizem que a maioria da população apoia o projeto.
“O canal não é um fim em si mesmo, mas um meio para o desenvolvimento humano: mais emprego, mais saúde, mais educação, más produção, mais produtividade, mais competitividade e mais bem-estar para todos”, promete Talavera.
(BBC)

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