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“Sem Título”

“Cheguei para entrar na fila de pedestres do Ferry Boat e uma mulher logo me disse: “Dez Reais, Senhor, para pegar o ferry de 8”. Respondi: pago cinquenta, para não pegar fila, pois pensei que ela estava brincando; que era mais uma pessoa no fim da fila, puxando conversa. Então ela me chamou: “Venha! Eu te levo até lá”. Acompanhei ela, enquanto ela me perguntava se os “dez estava trocado”. Abri a carteira e paguei. Rapidamente ela colocou o dinheiro no bolso. A mulher liberou a catraca com um cartão magnético. Em um minuto, eu estava no Salão de Embarque. Dez minutos depois da minha chegada ao terminal, eu já havia embarcado.
Corrupção? Para uns não, porque defendem as oportunidades, como a encontrada por aquela mulher comum (que não é funcionária dali), que, deveras, estava garantindo a alimentação dos filhos, com cada um daqueles passageiros que lhe paga R$4,90, porque os outros R$5,10 ficam para a empresa concessionária. Corrupção? Para outros, sim, porque desrespeita quem chegou mais cedo para garantir seu lugar na fila e viajar sem gastar mais do que lhe cobra a bilheteria; sim, porque discrimina, pelo abuso do poder econômico, quem só tem o dinheiro da passagem. Corrupção? Para mim, não e sim; não, porque cheguei cedo, com uma hora de antecedência do horário previsto para o meu embarque, e a quantidade de pessoas na fila era muito inferior à lotação reduzida, neste tempo de Pandemia do novo coronavírus Sars-Cov-2; sim, porque nada justifica a promoção ou o fomento da desigualdade de direitos, principalmente quando o poder aquisitivo representa essa diferenciação. Arrependido? Sim, por imaginar (e isso afeta a minha consciência) quantas pessoas presenciaram aquele abuso e me olharam pelas costas… Umas murmurando: “lá vai mais um abusado!”; outras, pensando: “viva a quem tem dinheiro!’; e algumas poucas: “ah! Se eu pudesse denunciá-los”. Meu arrependimento é também acadêmico-profissional; sou um Cientista Social, de Formação, a quem não é dado o direito de se transformar em objeto de estudo, pois as relações sociais e interpessoais são estudadas por nós, Sociólogos, que identificamos fenômenos através de seus gradientes e possíveis hipóteses. Nesta época de Pandemia (em que as pessoas deveriam estar recolhidas em suas casas, cumprindo o distanciamento social e, quando, necessariamente, na rua, evitar aproximação), a
aglomeração diária no terminal marítimo do Sistema Ferry Boat, em Salvador ou na Ilha de Itaparica-BA, é um fenômeno a ser estudando; o gradiente, ali, é o fluxo de pessoas, indo ou vindo; e as hipóteses são as perguntas que precisam ser formuladas para validar ou negar o que se imagina ser tal fenômeno. Mas isto é matéria para outra produção textual. Ficamos por aqui”.
Zéu Barbosa
Sociólogo
MTE-DRT-BA

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