Política

Entenda o que são candidatos ‘laranjas’

A expressão candidatos “laranjas” dominou o noticiário de política nesta semana. Ela está no centro da crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno. Também apareceu em um levantamento que apontou 51 candidaturas suspeitas em 18 partidos nas eleições passadas.

No início do mês, quando o termo candidaturas “laranjas” começou a ser usado com mais frequência, se referia a suspeitas contra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Ele e Bebianno são do PSL, mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro.

O que significa?

A palavra “laranja”, sozinha, pode ser empregada para definir alguém que assume uma função ou responsabilidade no papel, mas não na prática. Na prática, ela está cedendo seu nome para uso de outra pessoa. O termo, nesses casos, aparece geralmente em investigações policiais sobre fraudes.

Por isso, o candidato “laranja” é o candidato de fachada. Aquele que entra na eleição sem a intenção de concorrer de fato, com objetivos que podem ser irregulares, como desviar dinheiro do fundo eleitoral. Nessa hipótese, o candidato “laranja” empresta o nome para sair como candidato, mas na verdade faz parte de um esquema com outras pessoas.

Crise com Bebianno

No início desta semana, o jornal “Folha de S.Paulo” publicou uma reportagem que mostra um repasse de R$ 400 mil do PSL para uma candidata a deputada federal do partido em Pernambuco. Segundo o jornal, o repasse foi feito quatro dias antes das eleições e ela recebeu apenas 274 votos. De acordo com a Folha, esses são indícios de que a candidatura era “laranja”.

Bebianno era o presidente do PSL na época das eleições e era o responsável por autorizar os repasses para os candidatos.

A “Folha” também relatou que Bebianno autorizou repasse de R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora . O dinheiro, segundo o jornal, foi repassado para uma gráfica registrada em endereço de fachada.

Em uma nota, o ministro disse que, como presidente nacional do partido, não escolheu as candidatas que disputariam as eleições nos estados. Segundo ele, isso era uma atribuição dos diretórios regionais.

Na terça-feira (12), o ministro disse ao jornal “O Globo” que não havia crise sobre o tema no governo, e afirmou, para provar que não havia atritos, que teria conversado por telefone com Jair Bolsonaro, então internado em um hospital em São Paulo.

Um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, foi às redes sociais para dizer que era mentira que o pai tinha falado com Bebianno. O próprio Bolsonaro compartilhou a publicação do filho. O episódio desencadeou uma crise e pode custar o cargo do ministro.

Ministério do Turismo

Em 4 de fevereiro, uma reportagem também da “Folha de S.Paulo” apontou que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), que é presidente do partido em Minas Gerais, direcionou verbas de campanha a quatro candidatas no estado que são suspeitas de serem laranjas.

Álvaro Antônio se mantém à frente do ministério e a situação dele não é de desgaste como a de Bebianno.

Outros casos

Levantamento divulgado nesta sexta-feira (15)identificou 51 casos de candidatos supostamente “laranjas” nas eleições. Eles concorreram por 18 partidos, em 18 estados.

O Jornal Nacional analisou dados de 24.765 candidatos a deputado estadual e federal. Foi feito um cruzamento de informações de quanto os candidatos receberam de fundos formados com dinheiro público (fundo eleitoral e fundo partidário) e o número de votos que obtiveram.

Ao todo, os candidatos receberam, juntos, mais de R$ 8 milhões, e não se elegeram. O custo de gastos de campanha por votos obtidos por esses candidatos supera em pelo menos dez vezes o máximo valor de custo por um voto daqueles candidatos que se elegeram, que foi de R$ 190.

Candidatas mulheres

Além das candidatas do PSL apontadas pela “Folha” como suspeitas de terem sido “laranjas, 45 do 51 candidatos do no levantamento do Jornal Nacional são mulheres.

Uma possível causa para isso é que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que pelo menos 30% dos recursos do fundo eleitoral devem ser destinados a candidaturas femininas.

Investigações

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, disse nesta semana que a Polícia Federal, após uma determinação do presidente Jair Bolsonaro, começou a investigar as suspeitas de “laranjas” no PSL.

A promotora eleitoral Vera Lúcia Taberti, de São Paulo, que acompanha há anos candidaturas femininas com indícios de irregularidades, defende punições mais rígidas para inibir possíveis irregularidades em contas de campanhas.

“E uma punição maior para os partidos políticos que adotarem esse tipo de lançamento de candidatura fraudulenta, de corte de verba mesmo, um corte sensível de repasse de fundo”, afirmou.

“Quando ela [uma candidata] recebe uma quantidade significativa de verba e teve pouquíssimos votos, também aconteceu alguma coisa errada porque o emprego de verba naturalmente traria uma votação mais estruturada, mais organizada, com veículos, e se ela não obtém nada, um número insuficiente de votos, é fortíssimo que ela seja uma candidata laranja”, afirmou a promotora.(G1)

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