Economia

Pelo 5º mês, inflação por faixa de renda foi menor para mais pobres

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apurou que, em março, a variação dos preços de bens e serviços afetou mais as famílias de maior poder aquisitivo. Pelo quinto mês consecutivo, o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda foi menor para as familias mais pobres. De acordo com os dados divulgados hoje (12), a taxa verificada entre as famílias de maior poder aquisitivo foi quase o triplo da registrada pelas famílias de renda muito baixa: 0,11% contra 0,04%. Em fevereiro, a diferença havia sido ainda maior: 0,66% contra 0,08%.

O Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda é calculado com base nas variações de preços de bens e serviços pesquisados pelo Sistema Nacional de Índice de Preços ao Consumidor (SNIPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica (IBGE).

Entre os dois extremos, a taxa mensal de variação da inflação acompanhou a evolução do poder aquisitivo das famílias: 0,06% entre as que têm renda baixa; 0,09% entre as famílias de renda média-baixa e de renda média; 0,10% entre as de renda média-alta e 0,11% entre as de renda alta. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 0,09%.

São consideradas de renda muito baixa as famílias cujo orçamento de todos os integrantes totalizam menos de R$ 900. Famílias de renda baixa são aquelas que ganham entre R$ 900 e 1.350. As que dispõem de um orçamento familiar de R$ 1.350 a R$ 2.250 são consideradas de renda média-baixa. As que ganham entre R$ 2.250 a R$ 4.500, renda média. As que somam entre R$ 4.500 e R$ 9 mil estão reunidas entre as de renda média-alta e as famílias que ganham acima deste valor são consideradas de renda alta.

No acumulado do primeiro trimestre de 2018, a inflação da camada mais pobre da população aponta alta de 0,35%, enquanto o impacto da alta dos preços para as famílias de renda mais alta chegou a 1,13%. Já nos últimos 12 meses, a inflação dos lares com renda muito baixa (1,8%) é praticamente metade da apresentada pela classe mais alta (3,5%). O resultado do último mês inverte a situação verificada em março de 2017, quando a inflação foi menor quanto maior o poder aquisitivo familiar.

Em nota técnica, o Ipea aponta a queda dos preços dos alimentos no domicílio como principal fator para explicar o menor impacto da inflação sobre o orçamento das famílias mais pobres, principalmente a redução dos preços de cereais (1,7%), tubérculos (2,4%), carnes (1,2%) e aves e ovos (0,8%) – produtos de grande peso na cesta de consumo das classes mais baixas. Além disso, o aumento de 0,52% da alimentação fora do domicílio impactou mais fortemente a inflação das famílias de renda mais alta.

Análise

Segundo a técnica de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea Maria Andreia Parente Lameiras, os resultados não significam que os mais pobres estão sofrendo menos com a inflação.

“A questão é que as famílias mais pobres gastam quase um quarto de seus orçamentos com alimentos. Como em 2017 os resultados das safras brasileira e mundial foram positivos, o preço dos alimentos caiu. Isso ajudou a derrubar o peso da inflação sobre as camadas de menor poder aquisitivo – que, em contrapartida, sentiram no bolso os reajustes das tarifas de energia elétrica, do gás de cozinha e do transporte público”, disse a especialista, ao explicar que as famílias de maior poder aquisitivo também se beneficiam da queda no preço dos alimentos, mas, no geral, sentem mais o impacto da inflação sobre outros itens de consumo – entre eles, muitos aos quais as famílias mais pobres sequer tem acesso.

De acordo com a presidente da Associação das Donas de Casa do Estado de Goiás (ADC-GO), Keitty de Abreu Valadares, a queda dos preços de alguns dos principais produtos da cesta básica é pouco perceptível, principalmente se considerado o poder aquisitivo das famílias de menor renda. “Ao comprar produtos da época de safra, é possível levar mais coisas, mas, ainda assim, a queda dos preços, no geral, é muito pouca. E para quem come fora de casa, [a percepção] é de que os preços não baixaram. Tanto que damos a dica para as pessoas levarem de casa sua própria alimentação”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Colaborou Graziele Bezerra, da Rádio Nacional.

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