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Bom Senso FC cobra veto de Dilma em Brasília


Com manobra no Plenário, movimento pela melhoria do futebol brasileiro luta pela a aprovação da LRFE e pede a interferência da presidente da República. Grupo diz que é impossível fazer greve sem o apoio do sindicato da categoria

Um pouco mais de um ano após ser criado, o Bom Senso FC segue na luta para materializar as reivindicações que motivaram sua fundação. Nos últimos dias, o grupo engrossou a voz e não escondeu a irritação com a última reunião para discutir a redação final da LRFE (Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte) e, posteriormente, com a aprovação de uma MP (Medida Provisória) que prevê o parcelamento das dívidas dos clubes. Sem enxergar um caminho possível para iniciar uma greve, como chegou a cogitar, o Bom Senso prioriza a briga em Brasília e cobra atitude da presidente Dilma Rousseff.
Durante a campanha eleitoral, o Bom Senso FC ouviu da presidente a promessa de melhoria do futebol brasileiro. Na ocasião, Dilma se disse a favor da aprovação de um projeto de lei que faça os clubes cumprirem as suas obrigações fiscais. Na última quarta-feira, no entanto, uma manobra no Plenário da Câmara aprovou a Medida Provisória 656/14, que prevê a quitação das pendências dos clubes em até 240 prestações mensais, com redução de 70% das multas isoladas e 30% dos juros – além de 100% do encargo legal. A decisão revoltou os jogadores.
“Trata-se de mais uma jogada da bancada da bola, que pretendia jogar para escanteio toda a discussão realizada ao longo do ano, ignorando, em um só lance, todas as reuniões, as idas a Brasília, todo estudo e todas as propostas que fizemos à LRFE em prol do futebol. O veto presidencial é a única medida coerente ao compromisso assumido publicamente pela presidenta Dilma Rousseff e pelo ministro Aloizio Mercadante com a modernização e democratização do futebol brasileiro”, diz trecho do texto feito pelo movimento.
Um dos líderes do Bom Senso FC, o lateral-direito Ruy Cabeção explica em entrevista aoiG que o movimento está de mãos atadas. “Não tem mais o que fazer. A gente não pode colocar uma arma na cabeça do deputado. Colocamos na mesa a realidade do futebol brasileiro e não tem o que fazer a não ser contar com a boa vontade dos senadores. Está mais que escancarado que o futebol brasileiro precisa de uma reformulação, não adianta ter uma carcaça bonita. As coisas não funcionam. Os deputados e senadores fazem o que querem, e a presidente Dilma precisa interferir e cumprir o que prometeu para a gente. Se ela quer as coisas sejam feitas da maneira correta, a lei precisa ser aprovada”.
A votação da LRFE (Lei de Responsabilidade Fiscal no Esporte) no Plenário se arrasta em Brasília desde agosto. Os esportistas, através de seus próprios canais (site e Facebook), têm pedido incessantemente a alteração do texto elaborado pelo deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), pois entendem que apenas a exigência da CND (Certidão Negativa de Débito) não garante o pagamento das dívidas que os clubes hoje acumulam. Para Ruy, os políticos encontraram no esporte a forma de enriquecer.
“Hoje algumas pessoas não olham para a política como forma de enriquecer, mas sim no futebol. As pessoas que não são a favor querem que os clubes continuem no paraíso fiscal, em momento algum pensam em melhorar o futebol brasileiro. Se pensassem, estariam de acordo com a lei, estariam de acordo com o controle dos salários astronômicos e do endividamentos”, criticou Ruy.
O atraso em Brasília adia também o debate das demais pautas levantadas pelo Bom Senso FC, como o calendário e, principalmente, o fair-play financeiro. Mesmo depois de propor modelos para os campeonatos organizados pela CBF, o grupo encontrou resistência da entidade para analisar a questão.
“Os jogadores não aguentam mais ficar sem receber salário. Hoje eu posso dizer que eu tenho vergonha de ser jogador profissional, não tenho dignidade. O cidadão que trabalha e não recebe vai sobreviver como? Grande parte da imprensa propaga o futebol brasileiro como uma das maiores empresas do mundo, onde há estrutura, salários em dia, retorno financeiro… A verdade é que o futebol brasileiro é um produto falso. E é isso que o Bom Senso FC não está mais tolerando”, explicou.
De acordo com um estudo feito pelo próprio movimento, de 684 clubes brasileiros, apenas 101 possuem um calendário anual, e milhares de jogadores ficam desempregados. A greve, que poderia alertar para os problemas do futebol, agora parece um caminho inviável. Falta respaldo.
“Muitos são a favor da grave, mas ela não é fácil de acontecer. Infelizmente, o Sindicato dos Atletas não é um sindicato forte, que nos proteja. Tivemos o exemplo dos jogadores do Grêmio Barueri, que foram proibidos de entrar nos alojamentos após a paralisação. O sindicato deu um apoio temporário e, em seguida, os atletas foram mandados embora. É tudo na base do coronelismo. Os dirigentes pegam os seus capangas e expulsam os jogadores da cidade”, disse o jogador.
Nas críticas Ruy, sobrou até para a Rede Globo. “Infelizmente, a detentora de direitos de transmissões não tem interesse em mostrar que o futebol está em decadência porque ela precisa vender um bom produto. Quando entenderem que não é bem assim, os patrocinadores vão cobrar uma melhor gestão, a Globo vai querer que o produto seja de qualidade”, opinou.
A luta pela democratização da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) também anda a passos lentos, e Ruy sugere a criação de uma liga que tenha autonomia. “Se a gente olhar friamente, o que a CBF mudou? Nada. O que a CBF faz de melhor é cuidar da seleção, e os clubes deveriam formar uma liga que tivesse seu próprio regulamento. Os repasses que a CBF faz anualmente são para as federações. Isso é voto velado. Agora, a CBF estuda a possibilidade de pagar salários aos presidentes dessas federações. E quando eles vão votar contra a CBF? Nunca”, declarou o lateral.
(IG)

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