Saúde

Um trombo no meio do caminho

O documento foi elaborado pelo Grupo de Estudo em Trombose e Hemostasia, em parceria com 12 sociedades médicas, entre elas a Academia Brasileira de Neurologia, aSociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e aSociedade Brasileira de Cardiologia. “O trabalho focou os pacientes internados em hospitais, que sempre ficam mais propensos a desenvolver um trombo capaz de interromper o fluxo de sangue nas pernas por causa da imobilidade”, conta a pneumologista Ana Thereza Rocha, professora colaboradora do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia, em Salvador.
O trombo é um coágulo. Se ele se soltar e cair na corrente sangüínea dificilmente estaciona no coração. Em compensação, pode entupir a artéria pulmonar e levar à morte. O tromboembolismo venoso provoca, anualmente, um número maior de mortes do que a aids, os tumores de mama e próstata e os acidentes de carro juntos. Ainda segundo as estatísticas, todo ano mais de 1,5 milhão de pessoas sofrem desses trombos na União Européia. E cerca de 543 mil acabam morrendo. Nos Estados Unidos calcula-se que o mal atinja 2,6 milhões de americanos todo ano, de acordo com aAssociação Americana do Coração.
No Brasil dados do último relatório daOrganização Pan-Americana da Saúde revelam que as doenças do aparelho circulatório estão em terceiro lugar na lista das principais causas de internações no SUS, o Sistema Único de Saúde. Apesar dos números preocupantes, a prevenção do tromboembolismo profundo não tem merecido a devida atenção nos hospitais mundo afora. No Brasil, apenas 36% dos pacientes internados receberam algum tipo de cuidado preventivo nos últimos tempos.
Em outros países a situação é um pouco melhor 51% dos doentes tomaram medicamentos para evitar o mal. Diante da gravidade do quadro, a diretriz nacional recomenda que os indivíduos com idade acima de 40 anos, internados por mais de três dias, com mobilidade reduzida e fatores de risco associados recebam tratamento adequado para evitar o problema e suas seriíssimas conseqüências.
“A prevenção é tudo”, afirma o cirurgião vascular Valter Castelli Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular em São Paulo, resumindo a importância do tratamento antecipado da trombose venosa profunda. Mas não é fácil. Até porque, como revelam os estudos, 80% das pessoas que têm um trombo atrapalhando o caminho do sangue não apresentam nenhum sintoma.
Quando há algum sinal seja inchaço, aumento da temperatura local ou palidez , ele aparece em uma das pernas e acaba sendo solenemente ignorado. A vítima só grita por socorro quando o quadro evolui para uma embolia pulmonar é que, aí, fica difícil respirar, vem a dor no peito, os batimentos do coração se aceleram. Nos casos graves esses sintomas evoluem tão depressa que a pessoa perde a consciência e morre antes de ser atendida.
Ninguém acha que um dia vai ser vítima de um coágulo traiçoeiro. Com a microempresária Maria Goretti dos Reis Paiva, 48 anos, de São Paulo, não foi diferente. “E aí… Um dia e meio depois de uma operação para a retirada de um cisto, minha perna começou a inchar. Só então comecei a tomar um anticoagulante”, mas já era tarde. “Tive que voltar ao centro cirúrgico mais duas vezes para tratar a trombose.”
(Saúde)

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