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E o Carnaval da Bahia era assim. Uma historinha dos blocos de rua

Tudo começou com o Cruz Vermelha que desfilou pela primeira vez em 1884. O cortejo subiu a Ladeira da Montanha e adentrou pela Rua Chile, demarcando o território que durante mais de um século seria o espaço geográfico da alegria no Carnaval baiano. No ano seguinte desfilava o Fantoches da Euterpe e mais tarde o Clube dos Petas,Cavaleiros de VenezaFilhos do Diabo e Críticos Independentes. Clubes inspirados, alguns no Carnaval de Veneza com suas máscaras de gesso e sua temática épico-romana, outros já enveredando pela crítica de costumes e social com a sátira como referência gestual e musical.
Os afoxés surgem mais ou menos na clandestinidade, desfilando em outro percurso que não o tradicional, a essas alturas já oficial. Nascem Embaixada AfricanaOs Pândegos da África e em 1898 surge o Império da África na Rua Direita de Santo Antônio, nome sugerido pelo babalorixá Tio Batundê. O seu espaço geográfico era entre a Cruz do Pascoal, passando pelo Carmo, até a Rua da Ajuda, nada de ”invadir” a Rua Chile. Em 1902 os afoxés pedem licença ao governo para desfilar sem restrições. Pedido negado e muita polêmica sobre o assunto nos jornais.
No alvorecer do século XX surge o clube Inocentes em Progresso que escrachava os políticos e denunciava as mazelas do serviço público e um dia surpreendeu a cidade com o préstito carnavalesco “Ali Babá e os 40 ladrões”. Na década de 30 o espaço físico do Carnaval já se aproximava do Campo Grande e o samba de roda e o maxixe mandavam ver na avenida.
Blocos e batucadas dividem a preferência dos foliões, uns se confundem com os outros e então ouvem-se os tambores, chocalhos e agogôs de O Casquinha do Campo da Pólvora, o Bambá Sem Dendê da Saúde, ou então do Primeiro Nos do Pelourinho, Ora Bolas da galera do Cruz da Pascoal, A Voz  é UmaDeixa Falar, dentre outros e também As Convisessas, o cordão de travestidos com figurino de peruca, tamancos e leque.
foto de Pierre Verger
Na década de 30 e 40 as máscaras dominavam o ambiente, onde já se viam blocos, digamos independentes, desfilando em pranchas de bondes alugadas. Mas, a partir das 18 horas, por determinação da policia, os foliões não podiam usar fantasias que lhes encobrisse o rosto. Os foliões adquiriam lança perfumes nas lojas distribuidoras dos produtos da Bayer e da Rodhia e o cheiro era o abre-alas da paquera. E nos bairros são os serviços de auto-falante e as emissoras de rádio que promovem a folia.
Os afoxés se multiplicam e surgem Lordeza AfricanaAfricana de OuroCongo D’Àfrica, Otum Obá D’ÀfricaFilhas de Obá, Pai Burukô, este com boneco símbolo confecionado por Dioscoredes dos Santos, o Mestre Didi. E em 1949 nasce os Filhos de Ghandy. Os estivadores do porto de Salvador então desfilaram pelas ruas da cidade, como se observa na foto de Pierre Verger, ostentanto a fantasia de um lençol branco e torço de toalha felpuda, a contragosto das autoridades que espalharam o boato de que entre seus integrantes tinha militantes do partido comunista.
O bloco que promovia a paz a a concórdia e trazia para as ruas de Salvador o legado de resistência do líder hindu marcava um estilo percussivo que se tornaria uma de suas características marcantes. No início da década de 50 0 tradicional corso de carros conversíveis ganha um elemento novo. Numa fobica, um Ford 29, Osmar e Dodô desciam a Rua Chile amplificando o som de um pau elétrico fabricado pelo primeiro. Começava uma nova era do Carnaval de rua em Salvador.
As fotos que ilustram este post são na sequência: desfile de carro alegórico em 1936; prancha de bonde de 1917; Filhos de Ghandy em 1949; Rua Chile nos anos 40 e Mercadores de Bagdá em 1959.
(Ibahia)

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